quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O Brasil e a globalização.

O Brasil e a globalização.
A crise da Grécia e o acordo nuclear entre o Irã e a Turquia, são fatos recentes que aparecem no cenário internacional e nos dá a impressão de não ter relação com o Brasil, mas quando ouvimos o noticiário ou mesmo lemos as manchetes dos jornais percebemos a dimensão da interação entre esses fatos.
A crise da Grécia, por exemplo, decretada pela impossibilidade do Estado grego administrar seus gastos públicos sem a “ajuda” do FMI, refletiu no Brasil de maneira a provocar a baixa da Bovespa em cerca de 2.3% e por conseqüência fazer o Banco Central aumentar a taxa selic em 0,7 % aproximadamente justificando conter o consumo para controlar a inflação.
No caso do acordo nuclear entre Irã e Turquia, mediado pelo Brasil na figura do presidente Lula dizem os analistas políticos que o Brasil vem desenvolvendo uma política de protagonismo no cenário internacional com o objetivo de conseguir uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU e também influenciar a opinião pública brasileira a cerca da eleição da candidata Dilma Rouseff que conta com o apoio do atual presidente.
A forma como o mundo está organizado hoje possibilita a integração dos países devido à mundialização da economia, que ultrapassa as fronteiras geográficas, econômicas e culturais. A esse fenômeno dá-se o nome de globalização.
Intelectuais como Octávio Ianni e Milton Santos, entendem a globalização como uma palavra que vem sendo usada atualmente para expressar um fenômeno que começa a se concretizar desde o inicio da Idade Moderna com o surgimento do capitalismo.
O mercantilismo, a primeira fase do capitalismo e também da globalização, afirmou-se com as grandes navegações e a colonização da América, África e Ásia. Neste momento, os europeus determinaram a ocupação do território e a divisão internacional do trabalho, que no caso do Brasil colonizado pelos portugueses ficou determinado o trabalho escravo para a produção de produtos tropicais, tais como o açúcar, o café, o cacau, etc.
A segunda fase do capitalismo e da globalização aconteceu com a Revolução Industrial, a acumulação primitiva de capital do modelo colonialista possibilitou o investimento em máquinas e equipamentos no processo produtivo. Com a Revolução Industrial houve uma nova divisão internacional do trabalho e do território, nesse momento o colonialismo deu lugar ao neocolonialismo, ou a colonização através da dominação econômica, dessa forma os movimentos de libertação nacional e emancipação política ocorridos principalmente na América, não ameaçava o interesse do capital. Nesta fase por pressão dos ingleses, com o pretexto de expandir seus mercados consumidores, o Brasil libertou seus escravos e passou a produzir matéria prima para a produção de produtos industrializados a exemplo do algodão e da borracha, mantendo-se dominado economicamente através de uma relação comercial injusta onde produzia e vendia matéria prima barata e comprava produtos industrializados caros.
Ainda na fase industrial o capitalismo sofre a crise da superprodução que abala sua estrutura, por apresentar um problema de base: a falta de mercado consumidor, com isso, o liberalismo é colocado em cheque já que a não intervenção do Estado na economia, uma antiga reivindicação da burguesia, não pode prever e nem evitar a crise. O Estado Burguês passa a apresentar governos intervencionistas, nada liberais, com lideres carismáticos tais como Hitler na Alemanha, Mussolini na Itália, Getúlio Vargas no Brasil e Perón na Argentina. Os governos totalitários aliados a burguesia tratavam de impedir o avanço do socialismo, garantindo assim a propriedade. Durante a Segunda Guerra Mundial, Getúlio Vargas que destituiu a oligarquia cafeeira do poder com a Revolução de 30, funda as bases para o desenvolvimento do capitalismo no Brasil principalmente no que se refere ao trabalho assalariado criando a CLT (consolidação das leis trabalhistas) e o desenvolvimento industrial de base no eixo Rio São Paulo.
No pós-guerra o modelo fordista de produção foi colocado para o mundo como modelo capaz de resolver a equação produção/mercado consumidor. Aliado ao keynesianismo (conjunto de idéias do economista inglês Jhon Keynes, que pregava a intervenção do Estado na economia), o fordismo vai implementar a produção em massa para um consumo em massa, surge então a sociedade de crédito ou o um novo mercado consumidor tão desejado pela burguesia que viveu a crise da superprodução. Enquanto isso os Estados Unidos, potência capitalista patrocinava através do OTAN (organização do tratado do atlântico norte) e do Plano Marshall a defesa militar a recuperação econômica dos países europeus que adotassem o capitalismo como forma de organização política e econômica. O Brasil, alinhado aos Estados Unidos, recebeu uma ajuda econômica para implementar a política desenvolvimentista. Em nome do desenvolvimento econômico foram construídas obras faraônicas como a Transamazônica, a hidroelétrica Itaipú binacional, a construção de Brasília etc.
Celso Furtado em seu livro O Mito do Desenvolvimento Econômico criticava o modelo desenvolvimentista, argumentava que tal política não atendia as necessidades da população e levaria o Brasil ao endividamento, tudo isso para alcançar índices que não representavam um real desenvolvimento já que visavam apresentar crescimento do PIB a partir da produção das multinacionais. O fato é que o milagre econômico brasileiro aconteceu, a economia crescia cerca de 10% ao ano e a população apresentava índices alarmantes de mortalidade infantil, desnutrição, analfabetismo etc.
No contexto da produção e consumo em massa, aconteceu o previsível: a crise do petróleo que assolou o mundo na década de 70. Esta crise conjuntural abalou a economia norte americana fazendo com que os Estados Unidos cobrassem a divida dos países do terceiro mundo, para isso o Brasil contou com a “ajuda” do FMI que propuseram cortes nos gastos públicos tais como saúde, educação, segurança e infra-estrutura, deixando o Brasil em situação de miserabilidade comparada a países africanos, com altos índices de desemprego e inflação.
A crise do petróleo, entre outras coisas, abalou a estrutura do Estado Soviético que a partir de então o presidente Mikhail Gorbachoev passa a promover a abertura política (glasnost) e abertura econômica (perestroika), nesse contexto a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) desaparecem do cenário internacional dando origem a CEI (Comunidade dos Estados Independentes).
A terceira fase do capitalismo teve início com a derrocada da economia planificada (socialista) que reforçou o avanço das idéias neoliberais. A liberdade proposta por essas idéias é a de deixar que o mercado, e não o Estado seja o agente regulador da vida econômica. No entanto, a interferência do Estado na economia no decorrer do século XX se fez necessária no sentido de se evitarem as crises econômicas do capitalismo e manter-se o pleno emprego da mão-de-obra. Na maioria dos países capitalistas avançados ocorreu o declínio da política estatal que assegurava gastos públicos com previdência social, educação, saúde e outros benefícios sociais. O Estado que assegurava esses benefícios é denominado Estado do Bem-Estar Social. No Brasil este modelo não se concretizou, porém teve expressão no período da ditadura militar que apresentavam ministérios e programas para melhorar as condições sociais da população, a exemplo do MOBRAL na luta contra o analfabetismo, BNH na luta por moradia, etc.
O neoliberalismo apoiado nas diretrizes do Consenso de Washington detém a hegemonia na maior parte do mundo e teve sua representação política no Brasil na figura do presidente Collor de Melo que promoveu a abertura do mercado aos produtos estrangeiros e posteriormente o presidente Fernando Henrique Cardoso que implementou a política de privatização das empresas estatais.
Outras mudanças aceleradas vêm ocorrendo no mundo. São elas: uso intensivo de novas tecnologias, como robôs e computadores; redução de preço dos transportes de cargas internacionais; revolução na comunicação com as redes computadorizadas; acirrada competição comercial dos novos países de industrialização emergente, como Brasil, México, China, dentre outros, e os chamados Tigres Asiáticos (Coréia do Sul, Cingapura, Taiwan e Hong Kong). As empresas transnacionais dão as cartas decidindo onde, quando, e como produzir, indo em busca de mão-de-obra barata, de mercado e de matérias-primas em qualquer parte do globo. Todos esses fatores repercutem no mundo do trabalho em escala internacional. Os novos métodos de produção japoneses, como o toyotismo, originado na indústria automobilística Toyota, proporcionando produção mais flexível, ágil e com ênfase no desempenho operário, têm substituído a rigidez do modelo fordista. A reestruturação do trabalho em escritório, tanto no setor privado quando no público, tem resultado em dispensa em massa de trabalhadores. Com altos índices de desemprego, novos desafios são impostos ao sindicalismo em uma sociedade com redução crescente dos postos de trabalho. Nesse contexto o Brasil tenta se afirmar diante dessa nova divisão do trabalho produzindo tecnologia, mas, nunca alcançado uma posição de destaque como visto no documentário “Milton Santos: Por uma outra globalização” na produção de um Boing o Brasil contribui tecnologicamente, apenas, com parte de uma asa.
Socialmente o Brasil vem avançando com os programas de transferência de renda que tem sido implementado pelo governo Lula, mas, essa política não tem sido suficiente para impedir a extrema concentração de renda das nossas relações econômica.
Os resultados ambientais da globalização, também estão presentes no Brasil, constituindo um capítulo a parte apresenta problemas na ocupação do solo rural e urbano, desmatamento, poluição de lagos e rios e principalmente a ocupação racional da Amazônia.

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