quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O Brasil e a globalização.

O Brasil e a globalização.
A crise da Grécia e o acordo nuclear entre o Irã e a Turquia, são fatos recentes que aparecem no cenário internacional e nos dá a impressão de não ter relação com o Brasil, mas quando ouvimos o noticiário ou mesmo lemos as manchetes dos jornais percebemos a dimensão da interação entre esses fatos.
A crise da Grécia, por exemplo, decretada pela impossibilidade do Estado grego administrar seus gastos públicos sem a “ajuda” do FMI, refletiu no Brasil de maneira a provocar a baixa da Bovespa em cerca de 2.3% e por conseqüência fazer o Banco Central aumentar a taxa selic em 0,7 % aproximadamente justificando conter o consumo para controlar a inflação.
No caso do acordo nuclear entre Irã e Turquia, mediado pelo Brasil na figura do presidente Lula dizem os analistas políticos que o Brasil vem desenvolvendo uma política de protagonismo no cenário internacional com o objetivo de conseguir uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU e também influenciar a opinião pública brasileira a cerca da eleição da candidata Dilma Rouseff que conta com o apoio do atual presidente.
A forma como o mundo está organizado hoje possibilita a integração dos países devido à mundialização da economia, que ultrapassa as fronteiras geográficas, econômicas e culturais. A esse fenômeno dá-se o nome de globalização.
Intelectuais como Octávio Ianni e Milton Santos, entendem a globalização como uma palavra que vem sendo usada atualmente para expressar um fenômeno que começa a se concretizar desde o inicio da Idade Moderna com o surgimento do capitalismo.
O mercantilismo, a primeira fase do capitalismo e também da globalização, afirmou-se com as grandes navegações e a colonização da América, África e Ásia. Neste momento, os europeus determinaram a ocupação do território e a divisão internacional do trabalho, que no caso do Brasil colonizado pelos portugueses ficou determinado o trabalho escravo para a produção de produtos tropicais, tais como o açúcar, o café, o cacau, etc.
A segunda fase do capitalismo e da globalização aconteceu com a Revolução Industrial, a acumulação primitiva de capital do modelo colonialista possibilitou o investimento em máquinas e equipamentos no processo produtivo. Com a Revolução Industrial houve uma nova divisão internacional do trabalho e do território, nesse momento o colonialismo deu lugar ao neocolonialismo, ou a colonização através da dominação econômica, dessa forma os movimentos de libertação nacional e emancipação política ocorridos principalmente na América, não ameaçava o interesse do capital. Nesta fase por pressão dos ingleses, com o pretexto de expandir seus mercados consumidores, o Brasil libertou seus escravos e passou a produzir matéria prima para a produção de produtos industrializados a exemplo do algodão e da borracha, mantendo-se dominado economicamente através de uma relação comercial injusta onde produzia e vendia matéria prima barata e comprava produtos industrializados caros.
Ainda na fase industrial o capitalismo sofre a crise da superprodução que abala sua estrutura, por apresentar um problema de base: a falta de mercado consumidor, com isso, o liberalismo é colocado em cheque já que a não intervenção do Estado na economia, uma antiga reivindicação da burguesia, não pode prever e nem evitar a crise. O Estado Burguês passa a apresentar governos intervencionistas, nada liberais, com lideres carismáticos tais como Hitler na Alemanha, Mussolini na Itália, Getúlio Vargas no Brasil e Perón na Argentina. Os governos totalitários aliados a burguesia tratavam de impedir o avanço do socialismo, garantindo assim a propriedade. Durante a Segunda Guerra Mundial, Getúlio Vargas que destituiu a oligarquia cafeeira do poder com a Revolução de 30, funda as bases para o desenvolvimento do capitalismo no Brasil principalmente no que se refere ao trabalho assalariado criando a CLT (consolidação das leis trabalhistas) e o desenvolvimento industrial de base no eixo Rio São Paulo.
No pós-guerra o modelo fordista de produção foi colocado para o mundo como modelo capaz de resolver a equação produção/mercado consumidor. Aliado ao keynesianismo (conjunto de idéias do economista inglês Jhon Keynes, que pregava a intervenção do Estado na economia), o fordismo vai implementar a produção em massa para um consumo em massa, surge então a sociedade de crédito ou o um novo mercado consumidor tão desejado pela burguesia que viveu a crise da superprodução. Enquanto isso os Estados Unidos, potência capitalista patrocinava através do OTAN (organização do tratado do atlântico norte) e do Plano Marshall a defesa militar a recuperação econômica dos países europeus que adotassem o capitalismo como forma de organização política e econômica. O Brasil, alinhado aos Estados Unidos, recebeu uma ajuda econômica para implementar a política desenvolvimentista. Em nome do desenvolvimento econômico foram construídas obras faraônicas como a Transamazônica, a hidroelétrica Itaipú binacional, a construção de Brasília etc.
Celso Furtado em seu livro O Mito do Desenvolvimento Econômico criticava o modelo desenvolvimentista, argumentava que tal política não atendia as necessidades da população e levaria o Brasil ao endividamento, tudo isso para alcançar índices que não representavam um real desenvolvimento já que visavam apresentar crescimento do PIB a partir da produção das multinacionais. O fato é que o milagre econômico brasileiro aconteceu, a economia crescia cerca de 10% ao ano e a população apresentava índices alarmantes de mortalidade infantil, desnutrição, analfabetismo etc.
No contexto da produção e consumo em massa, aconteceu o previsível: a crise do petróleo que assolou o mundo na década de 70. Esta crise conjuntural abalou a economia norte americana fazendo com que os Estados Unidos cobrassem a divida dos países do terceiro mundo, para isso o Brasil contou com a “ajuda” do FMI que propuseram cortes nos gastos públicos tais como saúde, educação, segurança e infra-estrutura, deixando o Brasil em situação de miserabilidade comparada a países africanos, com altos índices de desemprego e inflação.
A crise do petróleo, entre outras coisas, abalou a estrutura do Estado Soviético que a partir de então o presidente Mikhail Gorbachoev passa a promover a abertura política (glasnost) e abertura econômica (perestroika), nesse contexto a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) desaparecem do cenário internacional dando origem a CEI (Comunidade dos Estados Independentes).
A terceira fase do capitalismo teve início com a derrocada da economia planificada (socialista) que reforçou o avanço das idéias neoliberais. A liberdade proposta por essas idéias é a de deixar que o mercado, e não o Estado seja o agente regulador da vida econômica. No entanto, a interferência do Estado na economia no decorrer do século XX se fez necessária no sentido de se evitarem as crises econômicas do capitalismo e manter-se o pleno emprego da mão-de-obra. Na maioria dos países capitalistas avançados ocorreu o declínio da política estatal que assegurava gastos públicos com previdência social, educação, saúde e outros benefícios sociais. O Estado que assegurava esses benefícios é denominado Estado do Bem-Estar Social. No Brasil este modelo não se concretizou, porém teve expressão no período da ditadura militar que apresentavam ministérios e programas para melhorar as condições sociais da população, a exemplo do MOBRAL na luta contra o analfabetismo, BNH na luta por moradia, etc.
O neoliberalismo apoiado nas diretrizes do Consenso de Washington detém a hegemonia na maior parte do mundo e teve sua representação política no Brasil na figura do presidente Collor de Melo que promoveu a abertura do mercado aos produtos estrangeiros e posteriormente o presidente Fernando Henrique Cardoso que implementou a política de privatização das empresas estatais.
Outras mudanças aceleradas vêm ocorrendo no mundo. São elas: uso intensivo de novas tecnologias, como robôs e computadores; redução de preço dos transportes de cargas internacionais; revolução na comunicação com as redes computadorizadas; acirrada competição comercial dos novos países de industrialização emergente, como Brasil, México, China, dentre outros, e os chamados Tigres Asiáticos (Coréia do Sul, Cingapura, Taiwan e Hong Kong). As empresas transnacionais dão as cartas decidindo onde, quando, e como produzir, indo em busca de mão-de-obra barata, de mercado e de matérias-primas em qualquer parte do globo. Todos esses fatores repercutem no mundo do trabalho em escala internacional. Os novos métodos de produção japoneses, como o toyotismo, originado na indústria automobilística Toyota, proporcionando produção mais flexível, ágil e com ênfase no desempenho operário, têm substituído a rigidez do modelo fordista. A reestruturação do trabalho em escritório, tanto no setor privado quando no público, tem resultado em dispensa em massa de trabalhadores. Com altos índices de desemprego, novos desafios são impostos ao sindicalismo em uma sociedade com redução crescente dos postos de trabalho. Nesse contexto o Brasil tenta se afirmar diante dessa nova divisão do trabalho produzindo tecnologia, mas, nunca alcançado uma posição de destaque como visto no documentário “Milton Santos: Por uma outra globalização” na produção de um Boing o Brasil contribui tecnologicamente, apenas, com parte de uma asa.
Socialmente o Brasil vem avançando com os programas de transferência de renda que tem sido implementado pelo governo Lula, mas, essa política não tem sido suficiente para impedir a extrema concentração de renda das nossas relações econômica.
Os resultados ambientais da globalização, também estão presentes no Brasil, constituindo um capítulo a parte apresenta problemas na ocupação do solo rural e urbano, desmatamento, poluição de lagos e rios e principalmente a ocupação racional da Amazônia.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Processos Produtivos

PRODUÇÃO ARTESANAL
Os primeiros artesãos surgiram quando a família camponesa deixou de ser ela própria a produzir os instrumentos de trabalho e os artefatos necessários ao seu modo de vida, mudança de que resultou a divisão social do trabalho, já referida.
Os principais traços característicos do artesanato são os seguintes: a oficina que dirige é pessoal e não societária; nela o artesão assume uma posição de chefia ou mestre artífice; é possuidor dos instrumentos de trabalho; participa pessoalmente na elaboração dos bens e serviços que produz. O artesão exerce uma arte ou um ofício manual por sua conta, sozinho ou auxiliado por membros da sua família e um número restrito de companheiros ou aprendizes. Com a ajuda de ferramentas e mecanismos caseiros, visa produzir peças utilitárias, instrumentos de trabalho, artísticas e recreativas, com ou sem fim comercial.
O artesão tornou-se um agente econômico que começou por produzir bens destinados ao seu consumo próprio, à troca direta por bens de que necessitava produzidos por outros, à entrega às classes dominantes dos artefatos produzidos como tributo. Os artesãos existentes nas zonas rurais viviam do exercício de ofícios, em vez da agricultura, como alfaiates, sapateiros, ferreiros, ferradores, preparadores de peles, etc. Trabalhavam parcialmente para os camponeses, freqüentemente sob a forma de troca direta. Por exemplo, um vaso de cerâmica por certa quantidade de trigo. Em geral, gozavam dum estatuto social mais elevado que o dos camponeses. Os mais privilegiados eram os metalúrgicos e os joalheiros.
Antes de iniciar a transformação o artesão é responsável pela seleção da matéria-prima a ser utilizada e pelo projeto do produto a ser executado manualmente. Todo o processo de transformação da matéria-prima em produto acabado é da sua responsabilidade. Pode-se exemplificar com os oleiros que obtinham o barro e o modificavam, os caiadores que fabricavam a cal ou os tecelões possuidores de gado lanígero. A matéria-prima podia ser adquirida diretamente junto dos respectivos produtores, das corporações, serem fornecida pelos consumidores ou pelos mercadores. O combustível indispensável era recolhido nas matas dos terrenos comuns ou comprado quando isso era inevitável.
As oficinas são instaladas em locais pequenos, por vezes, nas próprias casas ou em instalações anexas. Os artesãos dispõem de meios próprios de produção que consistem nas ferramentas e matérias-primas necessárias à produção. Estes bens não eram avaliáveis em dinheiro, estavam ligados ao trabalho do seu possuidor, inseparável deste, e nessa medida representavam um conjunto de bens próprios. Os instrumentos de trabalho utilizados, a experiência e os hábitos formados empiricamente adquiriram o caráter de tradições que, a pouco e pouco, se transformaram ao longo das gerações. Com algumas exceções, existia um domínio senhorial sobre os meios de produção fixos, como sucedia com os fornos ou as pensões. Os artífices, cuja tecnologia ia progredindo, logravam furtar-se às decisões mais violentas das relações senhoriais, tendentes a apoderarem-se dos meios de produção e dos próprios objetos de trabalho.
Os jovens que desejavam entrar na oficina artesanal deveriam ser aceites para a função de aprendizes dum mestre que detinha todo o conhecimento técnico, a posse das ferramentas e das matérias-primas, acolhia os companheiros e era também responsável pelo seu adestramento. Os aprendizes iniciavam o seu treino ainda na infância, não recebiam salário, geralmente eram parentes e moravam com o mestre ou nas próprias oficinas. O aprendizado das tarefas era transmitido aos novos profissionais de maneira prática, no próprio local de trabalho, a sua extensão variava de acordo com o ramo, podendo durar um ou mais anos. Após esta fase, o aprendiz tornava-se companheiro e depois, eventualmente, mestre, se fosse aprovado num exame da corporação. A passagem para o grau de mestre normalmente acontecia com a revelação dos segredos da atividade.
O bem produzido reflete a relação do artesão com o meio onde vive e a sua cultura. A atividade artesanal tem como uma das características principais a participação do profissional em todas as fases do processo, a obtenção dum alto grau de satisfação e a identificação com o produto.
Produção industrial:
A manufatura (do latim, manu, mão e factura, feitio) descreve a transformação de matérias primas em produtos terminados para sua comercialização. Também envolve processos de elaboração de produtos semi-faturados. O termo manufatura pode se referir a uma grande variedade de atividades humanas, desde o artesanato até a alta tecnologia, mas é mais comumente aplicada à produção industrial, na qual as matérias primas são transformadas (produção ou montagem de elementos) em bens acabados em grande escala. Isto permite qualificar como manufatureiras um conjunto de indústrias, dentre as quais podemos destacar a indústria aeronáutica, mecânica, alimentícia, eletrônica, elétrica, química, automobilística, confecção, calçados e moveleira.
A fabricação se produz sob todos os tipos de sistemas econômicos. Em uma economia capitalista, a fabricação é dirigida normalmente à elaboração de uma série de produtos que serão comercializados com a obtenção de lucro. Em uma economia coletivista, a fabricação esta freqüentemente dirigida por uma agência estatal. Nas economias modernas, a fabricação ocorre sob algum grau de regulação governamental.
A fabricação moderna inclui todos os processos intermediários requeridos para a produção e a integração dos componentes de um produto. O setor industrial está estreitamente relacionado com a engenharia e o desenho industrial.
O processo pode ser manual (origem do termo) ou com a utilização de máquinas. Para obter um maio volume de produção é aplicada a técnica da divisão do trabalho, onde cada trabalhador executa só uma pequena porção do fabrico. Desta maneira, são economizados e especializados movimentos, fato que repercute numa maior velocidade de produção.
A produção artesanal faz parte da vida humana desde a Idade Média, acredita-se que a manufatura moderna surge próxima à Revolução Industrial britânica, expandindo-se, a partir de então, por toda a Europa continental, logo à América do Norte e, em seguida, pelo resto do mundo.
A manufatura tornou-se uma porção imensa da economia do mundo moderno. Segundo alguns economistas, a fabricação é um setor que produz riqueza, enquanto o setor de serviços tende a ser o consumo desta mesma riqueza
Taylorismo é uma concepção de produção, baseada em um método científico de organização do trabalho, desenvolvida pelo engenheiro americano Frederick W. Taylor (1856-1915). Em 1911, Taylor publicou “Os princípios da administração”, obra na qual expôs seu método.
A partir dessa concepção, o Taylorismo, o trabalho industrial foi fragmentado, pois cada trabalhador passou a exercer uma atividade específica no sistema industrial. A organização foi hierarquizada e sistematizada, e o tempo de produção passou a ser cronometrado.
Algumas caracteristicas do Taylorismo:
- Racionalização da produção.
- Economia de mão-de-obra.
- Aumento da produtividade no trabalho.
- Corte de “gestos desnecessários de energia” e de “comportamentos supérfluos” por parte do trabalhador.
- Acabar com qualquer desperdício de tempo.
Desde então, e cada vez mais, tempo é uma mercadoria, e o trabalhador, que ”vende” sua mão-de-obra, portanto, seu tempo, tem a incumbência de cumprir com suas tarefas no menor tempo possível, para que possa produzir mais e mais.
Como pode ser observado no filme clássico “Tempos Modernos” de Charles Chaplin, o trabalhador passa a efetuar movimentos repetitivos e bem elementares, com o ritmo imposto pelas máquinas, e por quem as comandava. Seus supervisores diretos cronometravam seus movimentos e observavam quais os trabalhadores otimizavam o próprio tempo, e portanto a produção.
Prêmios eram dados aos trabalhadores com melhor tempo/desempenho. Essa competição promovida pelos gerentes fez com que a velocidade da produção aumentasse cada vez mais.
Taylor entendia que a hierarquização evitava a desordem predominante do tempo no qual a organização ficava por conta dos trabalhadores. Separou, dessa forma, o trabalho manual do trabalho intelectual, dividindo os funcionários entre aqueles que eram pagos para pensar de modo complexo (planejar), e aqueles que eram pagos, e mal pagos, para executar.
Dessa forma, da mão-de-obra operária, naquela época, não eram exigida a escolarização. O trabalho sistemático fazia dos trabalhadores peças descartáveis, pois peças de reposição não faltavam. Nesse sentido, era grande a economia na folha de pagamento das indústrias, pois a maioria dos trabalhadores era sem qualificação.
À direção, ou aos gerentes, cabia controlar, dirigir e vigiar os trabalhadores, impedindo inclusive qualquer conversa entre os mesmos. Aos trabalhadores só restava obedecer e produzir incessantemente.
Fordismo é o nome dado ao modelo de produção automobilística em massa, instituído pelo norte-americano Henry Ford. Esse método consistia em aumentar a produção através do aumento de eficiência e baixar o preço do produto, resultando no aumento das vendas que, por sua vez, iria permitir manter baixo o preço do produto.
Os primeiros automóveis surgiram na segunda metade do século XIX. No entanto, eram tão lentos na locomoção que se igualavam às carruagens. Foram os motores a combustão desenvolvidos pelos alemães Benz e Daimler, na última década do século XIX, que incentivaram o rápido aperfeiçoamento dos automóveis.
Nesse contexto, destacam-se dois modelos de fabricação: o artesanal, de Rolls Royce, e o de construção de grandes séries, de Henry Ford; no modo artesanal, construíam-se e ajustavam-se as peças em cada carro, que compreendia num trabalho mais lento, portanto de maior qualidade, mas de alto preço. Já no Fordismo, a fabricação em série implicou na queda da qualidade dos veículos. Em contrapartida, o carro ficou mais barato, tornando-o um meio de transporte acessível às pessoas. Essa cadeia de montagem em massa se intensificou na segunda década do século XX.
A popularização do veículo particular estimulou as pesquisas para o aprimoramento e melhorias de rendimento (aumento de aceleração, velocidade, capacidade de carga) o que se traduziu no surgimento de novos problemas (freios, perfis mais aerodinâmicos, necessidade de tornar mais leve o peso. Assim, as montadoras iniciaram a corrida para oferecer novidades e captar clientes.
Quando ocorreu a crise de energia nos anos 70, houve um investimento maior das montadoras em fabricar automóveis de baixo consumo, de modo a atender a necessidade dos condutores de veículos daquela época. Na década de 80, elas introduziram o universo da eletrônica no mundo do automóvel.
O Fordismo é utilizado até hoje na fabricação de automóveis. Foi e continua sendo o único modelo de produção capaz de atender a demanda exigida pela sociedade atual. Com a crise econômica de 2008 e 2009 no sistema imobiliário dos EUA e sua conseqüência no mercado global, inúmeras montadoras sofreram uma enorme queda nas vendas e tiveram de demitir seus funcionários pela repercussão da crise também no mercado de automóveis.
Toyotismo é o modelo japonês de produção, criado pelo japonês Taiichi Ohno e implantado nas fábricas de automóveis Toyota, após o fim da Segunda Guerra Mundial. Nessa época, o novo modelo era ideal para o cenário japonês, ou seja, um mercado menor, bem diferente dos mercados americano e europeu, que utilizavam os modelos de produção Fordista e Taylorista.
Na década de 70, em meio a uma crise de capital, o modelo Toyotista espalhou-se pelo mundo. A idéia principal era produzir somente o necessário, reduzindo os estoques (flexibilização da produção), produzindo em pequenos lotes, com a máxima qualidade, trocando a padronização pela diversificação e produtividade. As relações de trabalho também foram modificadas, pois agora o trabalhador deveria ser mais qualificado, participativo e polivalente, ou seja, deveria estar apto a trabalhar em mais de uma função.
Os desperdícios detectados nas fábricas montadoras foram classificados em sete tipos: produção antes do tempo necessário, produção maior do que o necessário, movimento humano (por isso o trabalho passou a ser feito em grupos), espera, transporte, estoque e operações desnecessárias no processo de manufatura.
As principais características do modelo toyotista são:
+ Flexibilização da produção – produzir apenas o necessário, reduzindo os estoques ao mínimo.
+ Automatização – utilizando máquinas que desligavam automaticamente caso ocorresse qualquer problema, um funcionário poderia manusear várias máquinas ao mesmo tempo, diminuindo os gastos com pessoal.
+ Just in time (na hora certa) – sem espaço para armazenar matéria-prima e mesmo a produção, criou-se um sistema para detectar a demanda e produzir os bens, que só são produzidos após a venda.
+ Kanban (etiqueta ou cartão) – método para programar a produção, de modo que o just em time se efetive.
+ Team work ( trabalho em equipe) – os trabalhadores passaram a trabalhar em grupos, orientados por uma líder. O objetivo é de ganhar tempo, ou eliminar os “tempos mortos”.
+ Controle de qualidade total – todos os trabalhadores, em todas as etapas da produção são responsáveis pela qualidade do produto e a mercadoria só é liberada para o mercado após uma inspeção minuciosa de qualidade. A idéia de qualidade total também atinge diretamente os trabalhadores, que devem ser “qualificados” para serem contratados. Dessa lógica nasceram os certificados de qualidade, ou ISO.
Embora possa parecer que o modelo toyotista de produção valorize mais o trabalhador do que os modelos anteriores (fordista e taylorista), tal impressão é uma ilusão. Na realidade da fábrica, o que ocorre é o aumento da concorrência entre os trabalhadores, que disputam melhores índices de produtividade entre si. Tais disputas sacrificam cada vez mais o trabalhador, e tem como conseqüência, além do aumento da produtividade, o aumento do desemprego. Em suma, a lógica do mercado continua sendo a mesma: aumentar a exploração de mais-valia do trabalhador.
O Volvismo foi criado por Emti Chavanmco engenheiro da Volvo nos anos 60. Nascido na Índia ele mudou-se com a família para Suécia por causa da guerra civil.
Em linhas gerais, a indústria sueca é caracterizada endogenamente pelo altíssimo grau de informatização e automação e exogenamente pela forte presença dos sindicatos trabalhistas e mão-de-obra altamente qualificada. No caso das fábricas da Volvo, é ainda marcada por um alto grau de experimentalismo, sem o qual talvez não fosse possível ter introduzido tantas mudanças.
O Volvismo surgiu como resultado de várias inovações conjuntamente postas em prática, com a particularidade da participação constante dos trabalhadores. A exigências do mercado competitivo forjaram melhorias, mas o que fez a diferença no caso da Volvo foram claramente características particulares da sociedade sueca. Além dos sindicatos fortes, o alto grau de automação das fábricas no país fez com que desde há tempos os jovens rejeitem serem vistos como “acessórios das máquinas”, como no taylorismo o seriam.
Isso gerou mudanças estruturais: nessa linha, o operário tem um papel completamente diferente daquele que tem no fordismo, e ainda mais importante que no toyotismo: aqui é ele quem dita o ritmo das máquinas, conhece todas as etapas da produção, é constantemente reciclado e participa, através do sindicatos, nas decisões sobre o processo de montagem da planta da fábrica (o que o compromete ainda mais com o sucesso de novos projetos).

Fontes
Enciclopédia Mirador Internacional
Por Thais Pacievitch
Por Paula Perin dos Santos

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Modo de produção

Modos de produção: a história da transformação da sociedade humana

O modo de produção é a maneira pela qual a sociedade produz seus bens e serviços, como os utiliza e como os distribui. É chamado também de sistema econômico.
Assim, numa determinada época histórica, uma sociedade tem uma certa maneira de se organizar para produzir e para distribuir sua produção.
O modo de produção de uma sociedade é formado por suas forças produtivas e pelas relações existentes nessa sociedade. Assim: o conceito de modo de produção resume claramente o fato de as relações de produção serem o centro organizador de todos os aspectos de sociedade.
Ao longo da História, a espécie humana tem produzido de vários modos aquilo de que necessita. Por isso, pode-se afirmar que a História da humanidade é a história da transformação da sociedade humana pelos diversos modos de produção.
Como vimos, cada sociedade tem uma forma histórica de produção que lhe é própria; e sua história é a história do desenvolvimento do seu processo de produção.
Foi esse processo de desenvolvimento que ocasionou o aparecimento dos principais modos de produção. São eles: primitivo, escravista, asiático feudal, capitalista e socialista.
Cada modo de produção pode ter existido em lugares e épocas diferentes. Por exemplo, o modo de produção primitivo existiu nos primeiros tempos da humanidade e existe ainda hoje entre indígenas do Brasil e aborígine da Austrália. Da mesma forma, o modo de produção escravista predominou na Grécia e no Império Romano antes de Cristo, como também no Brasil, entre os séculos XVI e XIX.

Principais modos de produção

Modo de produção primitivo

Inicialmente, os humanos viviam em tribos nômades e dependiam exclusivamente dos recursos da região em que a tribo se encontrava. Sobreviviam graças à coleta e ao extrativismo: caçavam animais para se alimentar e para usar as peles como roupas, pescavam e colhiam frutos silvestres. Não dominavam a natureza. Passavam privações quando acontecia alguma alteração climática brusca e a caça, a pesca e os frutos silvestres rareavam.
Aos poucos a espécie humana começou a cultivar a terra, produzindo verduras, legumes, frutas e cereais; passou a criar alguns tipos de animais. Quando isso aconteceu, as pessoas deixaram de ser nômades e passarem a ser sedentárias, isto é tiveram condições de se fixar num lugar.
Durante toda a História, o ser humano sempre transformou a natureza para produzir bens que satisfizessem suas necessidades básicas e também que lhe proporcionassem uma vida mais confortável.
A comunidade primitiva foi à primeira à organização humana. Ela existiu em diversas partes da terra há dezenas de milhares de anos. Ainda hoje, na África, na Austrália, na Nova Zelândia e na região da Amazônia, encontramos tribos com esse tipo de organização: alimenta-se de frutos e raízes, da pesca e da caça, e não praticam a agricultura nem o pastoreio.
O modo de produção primitivo designa uma formação econômica e social que abrange um período muito longo, desde o aparecimento da sociedade humana. A comunidade primitiva existiu durante centenas de milhares de anos, enquanto o período compreendido pelo escravismo, feudalismo e capitalismo mal ultrapassa cinco milênios.
Na comunidade primitiva os homens trabalhavam em conjunto. Os meios de produção e os frutos do trabalho eram propriedade coletiva, isto é, de todos. Não existia ainda a idéia de propriedade privada dos meios de produção.
Nas comunidades primitivas – onde tudo era de todos – não havia o Estado. Este só passou a existir quando alguns homens começaram a dominar outros. O Estado surgiu como um instrumento de organização social e de dominação.

Modo de produção escravista

É um modo de produção que predominou na Antigüidade, mas que também existiu no Brasil durante a Colônia e o Império.
Na sociedade escravista os meios de produção (terras e instrumentos de produção) e os escravos eram propriedades do senhor. O escravo era considerado um instrumento, um objeto, como um animal ou uma ferramenta.
Assim, no modo de produção escravista, as relações de produção eram relações de domínio e de sujeição: senhores x escravos. Um pequeno número de senhores explorava a massa de escravos, que não tinha nenhum direito.
Os senhores eram proprietários da força de trabalho (os escravos), dos meios de produção (terras, gado, minas, instrumentos de produção) e do produto do trabalho.
Nesse modo de produção já existia o Estado, pois grupos de indivíduos dominavam outros grupos. O Estado surgiu para garantir o interesse dos senhores.



Modo de produção asiático
O modo de produção asiático predominou no Egito antigo, na China, na Índia, entre os astecas do México e os incas do Peru, e também na África do século passado.
Tomando como exemplo o Egito antigo, no tempo dos faraós, vamos notar que a parte produtiva da sociedade era composta por escravos – que executavam trabalhos forçados – e por camponeses – que eram obrigados a entregar ao Estado o que produziam. as terras pertenciam ao Estado e, portanto, ao faraó, já que ele encarnava o Estado. Os grupos privilegiados da sociedade eram os sacerdotes, os nobres, os funcionários e os guerreiros.
O excedente da produção possibilitava que o faraó destacasse um grande grupo de homens para construir o exército, outro grupo para construir as obras grandiosas (pirâmides, templos, canais de irrigação) e o grupo dos sacerdotes para preservar o saber sagrado.
Essa organização social permitia que a parcela maior do excedente da produção fosse consumida por esses segmentos improdutivos da sociedade, o que foi minado cada vez mais o modo de produção asiático.
Vários foram os fatores que determinaram o fim do modo de produção asiático:
A propriedade da terra pelos nobres;
O alto custo de manutenção dos setores improdutivos;
A rebelião dos escravos.
No caso dos impérios inca e asteca, também contribuiu para o seu fim a conquista do território pelos espanhóis.


Modo de produção feudal
O modo de produção feudal predominou na Europa ocidental durante toda Idade Média, permanecendo até o século XVI. O Japão, a sociedade feudal foi consolidada pelo xogunato (século XVIII).
A sociedade feudal estruturava-se basicamente em senhores x servos. As relações de produção no feudalismo (relações servis) baseavam-se na propriedade do senhor sobre a terra e um grande poder sobre o servo. Os servos não em como os escravos: eles cultivavam um pedaço de terra cedido pelo senhor, sendo obrigado a pagar a ele impostos, rendas, e ainda a trabalhar as terras que o senhor conservava para si. O servo tinha o usufruto da terra, ou seja, uma parte do que a terra produzia era dele. Assim, trabalhava uma parte do tempo para si e outra para o senhor.
Outra diferença importante entre o servo e o escravo é que o senhor de escravos era dono do escravo, podendo vendê-lo, alugá-lo, etc. com o senhor de servos isso não ocorria: o servo, enquanto pessoa, não era propriedade de seu senhor.
Os senhores feudais tinham o poder econômico (eram os proprietários das terras) e o poder político (faziam as leis do feudo e obrigava os servos a cumpri-las).
Num determinado momento, as relações de produção feudais começaram a dificultar o desenvolvimento das forças produtivas. Ao mesmo tempo em que a exploração dos servos no campo aumentava, o rendimento da agricultura era cada vez mais baixo. Na cidade, o crescimento da produtividade dos artesãos era freado pelos regulamentos existentes, e o próprio crescimento das cidades era impedido pela ordem federal.
As relações feudais de produção deixaram de responder às necessidades épocas, pois o processo de desenvolvimento exigia novas relações de produção.
Dentro da própria sociedade feudal já começavam a aparecer às relações capitalistas de produção.

PS. Os modos de produção Capitalistas e socialistas serão analisados posteriormente.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Estrutura organização e mudança social

Estrutura e Organização Social
Numa escola trabalham o diretor, o coordenador pedagógico, vários professores, o secretário e os serventes, além dos alunos. Cada um desses elementos ocupa uma posição social, um status no grupo. Cada posição está relacionada com as demais, e todas elas, em conjunto, formam a estrutura da escola.
Estrutura social, portanto, é esse conjunto ordenado de partes encadeadas que formam um todo. Dito de outro modo, a estrutura social é a totalidade dos status existentes num determinado grupo social ou numa sociedade.
Cada um dos participantes de uma estrutura desempenha o papel correspondente à posição social que ocupa. O conjunto de todas as ações que são realizadas quando os membros de um grupo desempenham seus papéis sociais compõem a organização social. Esta corresponde, portanto, ao funcionamento do organismo social.
Durante o período letivo, a organização da escola é bastante dinâmica. No período de férias, porém, baixa a níveis mínimos, pois quase todos os elementos que a constituem não estão desempenhando seus papéis.
Assim, enquanto estrutura social dá idéia de algo estático, que simplesmente existe, a organização social dá idéia de uma coisa dinâmica, que acontece.
A estrutura social se refere a um grupo de partes (reunião de indivíduos, por exemplo), enquanto a organização social se refere às relações que se estabelecem entre as partes.
Quanto mais complexa a sociedade, maior e mais complexa sua estrutura e sua organização social.
Tanto a estrutura quanto a organização social permanecem sempre iguais. Elas podem passar, e passam com freqüência, por um processo de mudança social.

Estratificação e Mobilidade Social
Estratificação Social
A estratificação social indica a existência de diferenças, de desigualdade entre as pessoas de uma determinada sociedade. Ela a existência de grupos de pessoas que ocupam posições diferentes.
São três os principais tipos de estratificação social:
• Estratificação econômica – Baseada na posse de bens materiais, fazendo com que haja pessoas ricas, pobres e em situação intermediária;
• Estratificação política – Baseada na situação de mando na sociedade (grupos que tem grupos que não tem poder);
• Estratificação profissional – Baseada nos diferentes graus de importância atribuídos a cada profissão pela sociedade. Por exemplo, em nossa sociedade valorizamos muito mais a profissão de médico do que a profissão de pedreiros.
É importante lembrar que todos os aspectos de uma sociedade – econômico, político, social, etc. – estão interligados. Assim, os vários tipos de estratificação não podem ser entendidos separadamente. Por exemplo, as pessoas que ocupam altas posições econômicas em geral também têm poder e desempenham funções valorizadas socialmente. No entanto, o aspecto econômico é mais importante que os outros na caracterização da sociedade. Para compreender como se dá à estratificação econômica numa sociedade, por exemplo, podemos realizar duas opções:
- Reunirmos as pessoas em grupos de acordo com o nível de rendimento que apresentam;
- Formados os grupos com pessoas de uma mesma situação econômica, hierarquizamos esses grupos.
Assim procedendo, teremos, de acordo com o critério nível de rendimento:
• Grupo A – Pessoas de renda alta;
• Grupo B – Pessoas de renda média;
• Grupo C – Pessoas de renda baixa.
Veja na figura abaixo como esses grupos podem ser representados através de uma pirâmide de renda:


Classe alta

Classe média
Classe baixa.



A estratificação social é a divisão da sociedade em estratos ou camadas sociais. Dependendo do tipo de sociedade, esses estratos ou camadas podem ser: castas (Índia); estamentos (Europa ocidental) e classes sociais (países capitalistas).

Mobilidade Social
Em maio de 1953, Lourenço Carvalho de Oliveira, nascido na pequena aldeia da Vigia, no norte de Portugal, desembarcou no porto de Santos, depois de onze dias de viagem na terceira classe do Vera Cruz. Em sua terra deixara a mulher e três filhos pequenos, vivendo graças à solidariedade de parentes ou vizinhos.
Foi morar de favor na casa de um primo e arrumou emprego como ajudante num bar. Economizou muito, mandou buscar a família e conseguiu depois de um ano de trabalho e privações abrir uma pequena venda em sociedade com um amigo. O negócio foi crescendo: primeiro uma mercearia, depois um supermercado, a seguir outro e mais outro. Agora 35 anos depois de chegar ao Brasil, o Sr. Lourenço é dono de uma grande rede de supermercados, tendo-se tornado um dos mais influentes membros da Associação Comercial. Seus filhos estudaram até o curso superior e um deles é professor na Universidade de São Paulo.
Esse caso mostra que os indivíduos, numa sociedade capitalista, estratificada em classes sociais, podem não ocupar um mesmo status durante toda a vida. É possível que alguns deles, integrem a camada de baixa renda (C), passem a integrar a de renda média (B). Por outro lado, alguns indivíduos da camada de alta renda alta (A), por algum infeliz acontecimento, podem ver sua renda diminuída, passando a integrar as camadas B ou C. Esse fenômeno é chamado de mobilidade social.
Mobilidade Social, portanto, é a mudança de posição social de uma pessoa num determinado sistema de estratificação social.
Quando as mudanças de posição social ocorrem no sentido de subir ou descer na hierarquia social, estamos diante de mobilidade social vertical. Esta pode ser:
• Ascendente, quando a pessoa melhora sua posição no sistema de estratificação social passando a integrar um grupo de situação superior a de seu grupo anterior.
• Descendente, quando a pessoa piora de posição no sistema de estratificação social, passando a integrar um grupo de situação inferior.
O filho de um operário que, através do estudo, passa a fazer parte da classe média, é um exemplo de mobilidade social vertical ascendente. A falência e o conseqüente empobrecimento de um comerciante, por outro lado, é um exemplo de mobilidade social vertical descendente.
Vejamos agora o caso de alguém que muda de uma cidade do interior para a capital, permanecendo na mesma classe social. Esse exemplo mostra uma pessoa que experimentou alguma mudança de posição social, mas que, apesar disso, permaneceu na mesma classe social.

Quando a mudança de uma posição social a outra se opera dentro da mesma camada social, diz-se que houve uma mobilidade social horizontal.
Outro exemplo de mobilidade social horizontal pode ser o de um operário que muda de religião, ou que se casa com uma moça de mesmo nível social, ou, ainda que muda de partido político.
O fenômeno da mobilidade social varia de sociedade para sociedade. Em algumas sociedades ela ocorre mais facilmente; em outras, é praticamente inexistente no sentido vertical ascendente socialmente em São Paulo de que numa cidade do Nordeste. A mobilidade social vertical ascendente também é mais freqüente na sociedade americana do que na Índia, onde praticamente não existe. Esse tipo de mobilidade é mais intenso numa sociedade aberta, democrática – como nos Estados Unidos -, do que numa sociedade aristocrática por tradição, como a Inglaterra.
Entretanto, é bom esclarecer que, numa sociedade capitalista mais aberta dividida em classes sociais, embora a mobilidade social vertical ascendente possa ocorrer mais facilmente do que em sociedades fechadas, ela não se dá maneira igual para todos os indivíduos. A ascensão social depende muito da origem da classe de cada indivíduo. Alguém que nasce e vive numa camada social elevada tem mais oportunidades e condições de se sair melhor do que aqueles que são originários das camadas inferiores.








1. Castas Sociais

Como vimos anteriormente, existem sociedades em que os indivíduos nascem numa camada social mais baixa e podem alcançar, com o decorrer do tempo, uma posição social mais elevada.

No entanto, existem sociedades em que, mesmo usando toda a sua capacidade e empregando todos os esforços, o indivíduo não consegue alcançar uma posição social mais elevada. Nesses casos, a posição social lhe é atribuída por ocasião do nascimento, independentemente da sua vontade e sem perspectiva de mudança. Ele carrega consigo, pelo resto da vida, a posição herdada.

A sociedade indiana é estratificada dessa maneira. Desde há muito tempo implantou-se na Índia um sistema de estratificação social muito rígido e fechado, que não oferece a menor possibilidade de mobilidade social de um dos cônjuges, na Índia o casamento só é permitido entre pessoas da mesma casta.

Assim sendo, as castas sociais são grupos fechados, endógamos, cujos membros seguem tradicionalmente uma determinada profissão herdada do pai. Um indivíduo nasce numa casta e nela deve permanecer pelo resto da vida. Adquire ao nascer sua posição social, além de direitos e deveres específicos, não podendo ascender socialmente mediante qualidades pessoais ou realizações profissionais.

Pode-se esquematizar a estratificação social indiana através da seguinte pirâmide:










No topo da pirâmide social estão os brâmanes, que são sacerdotes e mestres de erudição sacra. A ele compete preservar a ordem social sob a orientação divina. Vêm a seguir os xátrias, guerreiros que formam a aristocracia militar; entre eles estão governantes de origem principesca, que têm a função de proteger a ordem social e o sagrado saber. Os vaicias, a terceira grande casta, são os comerciantes, os artesãos, os camponeses, os sudras executam os trabalhos manuais e as ocupações servis de toda espécie e constituem a casta mais baixa. É seu dever servir pacificamente às três castas superiores.

Fora e abaixo da pirâmide social localizam-se os párias, grupo de miseráveis, sem direitos ou quaisquer privilégios, sem profissão definida e que só inspiram asco e repugnância às demais castas. Vivem de piedade alheia; que não podem banhar-se no rio Ganges, nem ler os vedas, que são os livros sagrados dos hindus. Os pátrias aceitam com resignação seu lugar na sociedade e se conformam com a imutabilidade de sua situação por mais desprezível e inferior que seja.

Neste século, as reformas e as mudanças na economia do país, principalmente as provocadas pela industrialização, começaram a romper o sistema de castas sociais na Índia. Nos grandes centros, principalmente Nova Délhi e Calcutá, a abolição desse sistema vem sendo processada gradativamente. Entretanto ele ainda é arraigado no íntimo de cada hindu, sendo difícil desmontá-lo.



2. Estamentos

A sociedade feudal da Europa na Idade Média foi um exemplo típico de sociedade estratificada em estamentos.
Estamentos ou estado é uma camada social semelhante à casta, porém mais aberta. Na sociedade estamental a mobilidade social vertical ascendente é difícil, mas não é impossível.

Na sociedade feudal os indivíduos só muito raramente conseguiam ascender socialmente. Essa ascensão era possível em alguns casos: quando a igreja recrutava, em certas ocasiões, seus membros entre os mais pobres; quando os servos eram emancipados por seus senhores. Caso o rei conferisse um título de nobreza a uma homem do povo; ou ainda, se a filha de um rico comerciante se casasse com um nobre, tornando-se, assim, também membro da aristocracia.

Essas situações, como dissemos, eram difíceis de acontecer; normalmente as pessoas permaneciam no estamento em que haviam nascido.

A pirâmide social durante o feudalismo apresentava-se da seguinte maneira:










No topo da pirâmide encontravam-se a nobreza e o alto clero. Eram os donos das terras, da qual tiravam sua renda explorando o trabalho dos servos. Os nobres dedicavam-se à guerra e à caça e exerciam o poder judiciário. O alto clero (cardeais, arcebispos, bispos, abades) era uma elite eclesiástica e intelectual, e seus membros vinham da nobreza. Constituíam também a única camada letrada na primeira fase do período medieval, desempenhando importantes funções administrativas.

Vinham a seguir na pirâmide social os comerciantes. Embora muitas vezes ricos, eles não tinham os mesmos direitos da nobreza, além de sofrerem uma série de restrições legais em sua atividade. Essas restrições foram desaparecendo à medida que o feudalismo declinava.

Mais abaixo estavam os artesãos, os camponeses livres e o baixo clero. Os artesãos viviam nas cidades, reunidos em associações profissionais, os camponeses livres trabalhavam a terra e vendiam os produtos nas cidades; o baixo clero, originário da população pobre, convivia com o povo, prestando-lhe assistência religiosa.

Abaixo de todos estavam os servos, trabalhavam a terra para si e para seus senhores, vivendo em condições precaríssimas. Eles estavam ligados a terra mudava de dono.

A estratificação em estamentos – que representava um tipo intermediário entre a casta e a classe – era encontrada na Europa até fins do século XVIII.

3. Classes Sociais

Consideramos as seguintes situações: um rico fazendeiro, proprietário de uma grande extensão de terras, onde cria gado e planta café, empregando em sua propriedade dezenas de operários qualificados e não qualificados.

Esses exemplos são uma amostra da sociedade em que vivemos – a sociedade capitalista -, onde alguns são proprietários dos meios de produção e a maioria tem apenas sua força de trabalho. Assim, podemos dividir a sociedade capitalista em dois grandes grupos. Segundo a sua situação em relação aos elementos da produção:

• Proprietários, isto é, os proprietários dos meios de produção (terras, indústrias, etc.);
• Não-proprietários, isto é, os que são donos apenas de sua força de trabalho.

Como vemos, relações de produção dão origem a camadas sociais diferentes. A essas camadas – que se diferenciam pelo lugar que ocupam na produção de bens – damos o nome de classes sociais. Embora alguns autores usem a expressão “classe social”, simplesmente como sinônimo de camada social, aplicando-a, portanto a vários tipos de sociedade, é conveniente reservá-la para as sociedades capitalistas que a ela se aplica com maior precisão.

Na sociedade capitalista existem basicamente duas classes sociais: a burguesia (proprietária dos meios de produção) e o proletário (proprietária apenas de sua força de trabalho).










As pessoas recebem benefícios diferentes, conforme pertença a uma ou outra classe social. Por que isso acontece?

Essa desigualdade se explica porque são diferentes as relações que as pessoas mantêm com os elementos de produção (trabalho e meios de produção). De modo geral, os proprietários dos meios de produção (máquinas, terras, etc.) estão entre as pessoas de renda alta, enquanto aquelas que trabalham se situam no grupo de renda média (trabalho qualificado), ou no grupo de renda baixa (trabalho não qualificado). Da mesma forma, o prestígio social do que os trabalhadores. Também a distribuição do poder está baseada na posição dos indivíduo em relação aos elementos da produção.

A propriedade dos meios de produção possibilita, portanto, um maior nível de consumo, mais prestígio social e mais poder. Já os indivíduos que possuem apenas o seu trabalho não desfrutam das mesmas condições dos proprietários e são obrigados a trabalhar para eles, recebendo em troca uma remuneração, o salário.
É possível então chegar ao seguinte conceito de classe social: todo grupo de pessoas que apresenta uma mesma situação com relação aos elementos da produção constitui uma classe social.

Sem perder de vista a estratificação básica em duas classes sociais, e como consequência dela, podemos classificar a sociedade quanto ao nível de consumo de seus membros. Assim, os proprietários dos meios de produção podem adquirir bens e serviços de luxo; os que exercem um trabalho qualificado podem adquirir bens e serviços de preço intermediário; e aqueles que exercem um trabalho não qualificado só podem adquirir bens e serviços de primeira necessidade.

Daí concluímos que é possível representar a população de uma sociedade capitalista numa pirâmide social, conforme seu nível de consumo, que é um reflexo do seu nível de renda:









Na base da pirâmide social localiza-se o proletário, a classe dos trabalhadores, aquela que vive exclusivamente do seu trabalho. Acima do proletariado encontramos a classe média, também chamada de pequena burguesia, ou seja, aquela que viva do pequeno capital, como os pequenos profissionais liberais (advogados, médicos, engenheiros, etc.). No topo da pirâmide social está a grande burguesia, a classe alta: é a proprietária do grande capital, incluindo-se nela os grandes industriais, os banqueiros, os grandes comerciantes e os grandes proprietários de terra.
Concluímos então que não é possível compreender o aspecto social da sociedade capitalista (estratificação em classes sociais), sem levar em consideração seu aspecto econômico (a propriedade dos meios de produção).
Segundo o nível de renda, no Brasil e hoje podemos distinguir três classes: classe alta, classe média e classe baixa. A partir delas, é possível estabelecer várias subdivisões: classe média alta, classe média baixa, classe baixa superior e classe baixa inferior.

Desigualdades Sociais


I. Introdução

A nossa sociedade está organizada em classes sociais, que segundo Karl Marx, é um grupo de indivíduos que ocupa uma mesma posição nas relações de produção (infra-estrutura), é a classe social que condiciona a atuação do indivíduo na sociedade. Ainda segundo karl Marx, para se entender a política ou a cultura (superestrutura) de uma sociedade, temos primeiramente que entender as relações sociais de produção, que no nosso caso, sociedade capitalista, definem dois grandes grupos: a classe dominante, as detentoras do poder jurídico, da dominação cultural e dos meios de produção e a classe dominada, aqueles que nada possuem a não ser o seu corpo e sua força de trabalho.

Esta definição nos remete às conclusões dos textos de Sociologia, que estudamos até agora. No que se refere à cultura, ideologia, alienação, estética, percebemos que existe valores que nos são impostos, e que denominamos “valores da classe dominante”. Dentro dessa organização social percebemos diferenças e desigualdades sociais e é fundamental que saibamos explicar tais diferenças e desigualdades dentro da perspectiva histórica, até para concluirmos que os valores sociais mudam de acordo com o interesse da classe dominante.


II. As diferenças e desigualdades sociais em perspectiva histórica

1. Nas sociedades tribais: distribuídas pelos mais diferentes pontos da terra e com as mais diferentes estruturas sociais possuíam e ainda possuem, uma organização do trabalho baseada na divisão por sexo, usavam instrumentos rudimentares mas foram consagrados como “as sociedades da abundância”, já que com o mínimo de horas de trabalho destinado a produção conseguiam sustentar uma sociedade de onde nada lhes faltava, já que a riqueza está na vida e na natureza, não se preocupam em acumular riquezas por isso não promovem desigualdades nem exclusão social.

2. Na sociedade greco-romana: Uma sociedade civilizada, onde o trabalho era organizado segundo três concepções:

 Labor : trabalho que exigia esforço físico executado pelos submissos.
 Poiesis : trabalho de criar através do uso de instrumento ou das próprias mãos executados pelos artesãos e escultores.
 Práxis : trabalho que utiliza o discurso como meio para encontrar soluções voltadas para o bem-estar dos cidadãos.

Nesta sociedade já está expressa a relação entre status e trabalho, ainda nessa sociedade aparece a discussão a respeito da escravidão e pobreza. O escravo era aquele que por força das circunstâncias era submetido, por dominação (quando derrotados em guerras) ou por dívida (quando não conseguia honrar seus compromissos, nesse caso até cidadão poderia se tornar um escravo). Porém a pobreza era uma condição natural de alguns homens.

3. Na sociedade feudal: a terra era o principal meio de produção onde os trabalhadores tinham o direito ao usufruto e a ocupação da terra mediante a obediência e servidão, que gerava uma sociedade estruturada em estamentos e extrema exploração, onde o trabalho era uma verdadeira maldição, fruto do pecado original e deveria acontecer somente para sobrevivência, pois o tempo deveria ser usado para a oração e a salvação da alma.

4. Na sociedade capitalista: a Reforma Protestante veio trazer uma outra concepção para o trabalho, o pecado seria o vício e o desperdício, o trabalho gera riqueza e foi exatamente nessa sociedade, onde o trabalho gerou tanta riqueza onde as desigualdades sociais aparecem de maneira gritante, é que se tenta através das ciências e da filosofia sistematizar explicações sobre os fundamentos das desigualdades sociais, a partir do séc. XVI quando se instala uma nova ordem política e jurídica (teoria de Estado).

4.1. Interpretando as desigualdades:

Para Hobbes todos os homens eram naturalmente iguais o que tornava possível a luta incansável entre eles, tornado-se necessário o “acordo” entre os homens que se submeteriam ao poder soberano de Leviatã (Estado).

Para Locke o acordo ou o “pacto social”, a que se referia Hobbes, se faria entre homens livres e iguais, na medida em que tinham propriedades a zelar ou seja, a desigualdade social é meramente a condição de existir.

Para Rousseau, a própria condição social do homem leva à situação de desigualdade e que as desigualdades sociais não podem ser explicadas pelas desigualdades naturais (diferenças). A desigualdade social é gerada pela própria sociedade. Para Rousseau, os homens em seu estado de natureza eram livres e iguais e fizeram um pacto de submissão pelo bem comum, pelo bem da sociedade.

4.2. A pobreza como fracasso:

Com o desenvolvimento da sociedade industrial a partir do séc. XVIII, o capitalista e o operário, passam a ser os personagens na nova organização social, fundamentada teoricamente no liberalismo, que tinha como base a defesa da propriedade privada e o triunfo do homem de negócios. Nesse contexto os pobres não deveriam se revoltar, deveriam colaborar para a prevenção dos bens dos ricos que não eram culpados de serem ricos. Edmunde Burke (séc. XVIII) argumentava que “aos pobres, ninguém poderia ajudá-los já que Deus os havia abandonado...”

Voltaire, afirmava que para o pobre trabalhar constantemente, forma de purificá-los, deveria ter ganhos limitados para sempre se sujeitar ao trabalho, não adiantava pagar altos salários pois isso levaria o pobre a bebedeira e as gastos supérfluos, além de incentivar a desordem e a desobediência. A pobreza era decorrência do fracasso individual.

4.3. As desigualdades como produto das relações sociais:

No séc. XIX, aparecem várias teorias criticando as explicações sobre as desigualdades sociais, dentre elas a de karl Marx que desenvolveu ampla crítica sobre a noção de liberdade e igualdade do pensamento liberal, onde segundo Marx a liberdade seria liberdade de vender e comprar e justificava a apropriação e a dominação.

Para Marx, a sociedade é produto do conjunto de atividades humanas que podem ser definidos como ações recíprocas dos homens. Essas ações são de natureza diversas e portanto múltiplas, assumindo feições diferentes. Para Marx as ações recíprocas entre os homens, é que tornam a sociedade possível. Dessa maneira, sua reflexão sobre a desigualdade social não se restringe ao aspecto jurídico, mas também político. A questão da dominação garante a manutenção e a reprodução dessa condição desigual, onde uma classe produz e a outra se apropria da produção.

As desigualdades sociais são produzidas pelas relações econômicas, sociais, políticas e culturais, pois expressam concepções de mundo diferentes de acordo com cada classe. Participar de uma classe, significa para o indivíduo, partilhar de diversas atividades sociais que definem uma forma de pensar, de conceber a si e aos outros.




Bibliografia
Adaptação dos Textos da coleção: Os pensadores, Editora Abril.
Adaptação dos Textos da coleção: Grandes Cientistas Sociais, Editora Ática.





Mudança Social


1. O que é mudança social

O tema da reforma agrária está presente há bastante tempo nas discussões sobre os problemas mais graves que afetam o Brasil. Numa comparação entre o movimento pela abolição da escravidão no Brasil, no final do século passado e atualmente, o movimento pela reforma agrária, podemos perceber algumas semelhanças. Como na época da abolição da escravidão existiam elementos favoráveis e contrários a ela, também hoje há os que são a favor e os que são contra a implantação da reforma agrária no Brasil.

Na época da abolição havia indivíduos progressistas ou reformistas, que viam com agrado a abolição; e havia indivíduos que resistiam às mudanças, com atitudes tipicamente conservadoras e, às vezes, até mesmo atitudes reacionárias, isto é, de um conservadorismo exagerado. Entre os fazendeiros proprietários de escravos chegaram a ser organizados partidos políticos que se opunham à abolição. Também no Brasil de hoje existe a mesma situação: indivíduos com atitudes favoráveis à reforma agrária e indivíduos com atitudes contrárias a ela. Os fazendeiros da região do Araguaia, por exemplo, estão em conflito com posseiros, criando um foco de tensão no Centro-Oeste do Brasil.

A origem de tudo isso está no processo de mudança social.

Mudança social é qualquer alteração na forma de vida de uma sociedade. Nenhuma sociedade é perfeitamente igual a si mesma em dois momentos sucessivos de sua história. Com a abolição da escravidão, por exemplo, houve uma mudança social, uma modificação básica na instituição econômica. O trabalho passou a ser realizado por trabalhadores livres, que recebiam salário. Isso provocou uma mudança em toda a estrutura social brasileira.

Através da mudança social alteram-se as relações sociais. As modificações por que passou a família, por exemplo, levaram a uma menor distância social entre pais e filhos. As relações que, na família patriarcal, supunham uma estreita obediência dos filhos, foram hoje substituídas, em boa parte, por uma maior amizade entre pais e filhos.

O ritmo da mudança social varia de sociedade para sociedade: é lento nas sociedades mas simples, como as pequenas comunidades isoladas, e acelerado e até vertiginoso nas sociedades contemporâneas complexas, como as das grandes cidades.

O ritmo de mudança depende do maior ou menor número de contatos sociais com outros povos, do desenvolvimento dos meios de comunicação e também de certas atitudes individuais e sociais, que o aceleram ou dificultam. A multiplicidade de contatos com povos de costumes, padrões de vida e técnicas diversas faz acelerar as mudanças sociais.

Se é fato incontestável que a sociedade está sempre em mudança – lenta ou acelerada – também é certo que as mudanças não têm o mesmo ritmo em todos os setores das atividades sociais. Por exemplo, uma sociedade substitui mais facilmente um utensílio ou uma máquina do que uma crença, um modo de vida.


2. Causas da Mudança Social

A mudança social se estabelece de duas formas: através de forças endógenas (internas), isto é, por mudanças originadas dentro da própria sociedade (invenções); ou por forças exógenas (externas), quando são provenientes de outras sociedades (difusão cultural).

Primeiramente vamos diferenciar invenção de descoberta. Descoberta é a aquisição de um novo conhecimento, de uma informação nova. Invenção é o elemento ativo, é a aplicação da descoberta. Dizemos, então, descoberta da eletricidade e invenção da lâmpada; descoberta da energia atômica e invenção da bomba atômica. Assim, a mera descoberta não modifica a cultura ou a sociedade. Isso decorre de sua aplicação, isto é, da invenção.

Toda invenção pertence a uma sociedade determinada. Embora não seja a sociedade em seu conjunto que invente, mas sim os indivíduos, a sociedade fornece as bases, pois todo inventor utiliza o conhecimento acumulado de sua cultura. Cada geração não parte da estaca zero, mas de uma herança social transmitida. O patrimônio cultural e a necessidade social é que geram as invenções. Teria sido praticamente impossível a Einstein elaborar a Teoria da Relatividade se tivesse nascido entre os esquimós, por exemplo.

Contudo, para se modificar, uma sociedade não conta apenas com suas próprias invenções. Se fosse assim, as mudanças sociais: é a difusão cultural. A língua que falamos, a religião que seguimos, muitos utensílios e máquinas que usamos não se formaram nem foram inventados no Brasil. É a difusão que aumenta e expande a cultura das várias sociedades e acelera o ritmo de mudança.

Como já vimos, é mais fácil difundir técnicas do que valores, idéias, sistemas religiosos ou filosóficos. Estes estão impregnados de reações emotivas, de significado difícil de copiar e de assimilar. Além disso, os valores morais, os modos de vida e as religiões têm um enraizamento mais profundo no ser humano do que a utilização de técnicas e máquinas; portanto, são mais difíceis de serem substituídos.

Por outro lado, quando um elemento cultural é considerado útil e quando é compatível com a cultura de uma sociedade, ele é mais facilmente aceito. Um novo modelo de vestido ou paletó pode ser adotado com facilidade no Brasil, enquanto uma túnica africana para homens, por exemplo, encontrará grande resistência entre nós, pois vai contra os costumes tradicionais do país.

No processo de difusão, o prestígio da cultura: doadora também é um dado importante na aceitação ou não dos valores que estão sendo difundidos. Os costumes e modas vindos dos Estados Unidos, por exemplo, espalham-se com extrema facilidade nas cidades brasileiras.

Outro fator que influencia a aceitação é a novidade. Em geral, tudo que é aceito mais facilmente. As novidades se referem quase sempre a aspectos não essenciais da cultura – um produto novo, um novo corte de cabelo, a maneira de se vestir, etc..

Desde que a mudança social é em boa parte conseqüência das invenções, quanto maior for o número destas, tanto mais rápida será a mudança. As características marcantes das sociedades contemporâneas são, as rápidas mudanças que ocorrem incessantemente, devido ao grande número de invenções. A utilização de computadores em praticamente, todos os ramos da economia, por exemplo, tem provocado mudanças na forma de trabalho e também nas relações de trabalho.


Bibliografia:
TURNER. Jonathan H. Sociologia – conceitos e aplicações. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2000.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Pequena história das Ciências Sociais.

Pequena História das Ciências Sociais

Durante milhares de anos os homens vêm refletindo sobre os grupos e as sociedades em que vivem, procurando compreendê-los.

As primeiras tentativas de compreender as forças sociais não tiveram êxito. Tais tentativas baseavam-se mais na imaginação, na fantasia, na especulação, do que na investigação científica dos fenômenos. Recordariam, por exemplo, a deuses e heróis para explicar certos fenômenos sociais. Assim, para os gregos, Zeus, senhor dos homens e dos deuses, era o deus justiceiro e bom, que mantinha a ordem no mundo moral e físico. Hera, esposa de Zeus, protegia o casamento e era a divindade tutelar da vida familiar.

Ainda na Antigüidade, durante a Idade Média e até o início da Idade Moderna, as tentativas de explicação da sociedade foram muito influenciadas pela filosofia e pela religião, as quais propunham normas para melhorar a sociedade de acordo com seus princípios.

Essas primeiras tentativas de estudos sistemáticos sobre a sociedade humana começaram com os filósofos gregos Platão (427-347 a.C. ), em seu livro República, e Aristóteles (384-322 a.C.), com a obra Política. É de Aristóteles a afirmação de que “o homem nasce para viver em sociedade”.

Na Idade Média, como acontecia na Antigüidade, os filósofos continuaram a descrever a sociedade em que viviam e a propor normas para que o homem vivesse numa sociedade ideal. Santo Agostinho, por exemplo, na sua obra A cidade de Deus, achava que os homens viviam na cidade onde reinava o pecado. Propunha então normas para se viver numa cidade onde não houvesse pecado. Obras como essa descreviam a sociedade humana de uma perspectiva religiosa muito acentuada.

Com o Renascimento, começaram a surgir autores que trataram os fenômenos sociais num nível mais realista. Assim, escreveram sobre a sociedade de sua época: Maquiavel, em O príncipe; Tomás Morus, em Utopia; Tomaso Campanella, em Cidade do Sol; Francis Bacon, em Nova Atlântida.

Mais tarde, outras obras importantes, fruto da reflexão sobre a sociedade, deram grande contribuição ao desenvolvimento das Ciências Sociais. Entre elas, destacam-se O elogia da loucura, de Erasmo de Roterdã, e O Leviatã, de Tomás Hobbes.

Já no século XVIII, um avanço importante para a análise mais realista da sociedade foi a contribuição de Giambattista Vico, com sua obra A nova ciência. Nela, Vico afirma que a sociedade se subordinada a leis definidas, que podem ser descobertas pelo estudo e pela observação objetiva. Sua formulação “O mundo social é, com toda certeza. Obra do homem” foi um conceito totalmente revolucionário para a época. Alguns anos depois, Jean-Jacques Rousseau reconheceu a decisiva influência da sociedade sobre o indivíduo: em O contrato social, ele afirma que “o homem nasce puro e a sociedade é que o corrompe”.

Contudo, foi no século XIX – com Augusto Comte, Herbert Spencer, Gabriel Tarde e, principalmente, Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx – que a investigação dos fenômenos sociais ganhou um caráter verdadeiramente científico.

Bibliografia: OLIVEIRA,Pérsio Santos. Introdução à Sociologia. 25ª edição, São Paulo. Editora Ática, 2004.

Os teóricos clássicos da Sociologia

O surgimento da Sociologia:
“... Então nasce a Sociologia. Ela nasce para ajudar o Homem a conhecer o mundo em transformação, para permitir-lhe situar-se diante daquele novo quadro histórico. E nasceu para amenizar o espanto, dando ao Homem a possibilidade de, pela via do saber científico, afirmar-se como senhor dos novos tempos”.
Ferreira, José Geraldo.Origens da Sociologia. Brasília, 1991.

A Revolução Industrial e as Revoluções Burguesas faziam parecer que as sociedades européias estavam desorganizadas e anárquicas. As classes dominantes, lideradas então pela burguesia, passam a reconhecer em um novo surto de idéias, denominado positivismo, a doutrina capaz de estabilizar a organização da sociedade.

O positivismo nasce com Claude Henri Saint-Simon (1760-1825), defensor do industrialismo, que acreditava ser possível elaborar uma ciência da sociedade que orientasse as elites na busca da ordem, da paz e do progresso, para conter os “ímpetos revolucionários” das classes trabalhadoras. Mas foi seu discípulo August Comte (1798-1857) quem sistematizou os princípios fundamentais do positivismo.
Compreende-se o surgimento da Sociologia como uma tentativa de interpretação científica das transformações de cunho econômico (Revolução Industrial), política (Revolução Francesa) e cultural, ocorridas nos séculos XVIII e XIX, que destituíram a sociedade feudal e instituíram a sociedade capitalista.
Essa nova sociedade, que resultou das contradições desenvolvidas no seio da sociedade feudal, também se desenvolvia e ainda se desenvolve de forma extremamente contraditória, e assim, ao mesmo tempo em que produzia riquezas e desenvolvimento tecnológico inimaginável na época feudal, também gerava problemas típicos de uma sociedade industrializada e urbanizada, portanto, inexistente na sociedade medieval, tais como: suicídio, criminalidade, poluição, greve, etc.
A Sociologia é, assim, fruto da nascente organização social capitalista, que trouxe consigo uma série de novas situações que se constituíram objeto de estudo de diversos pensadores sociais, dentre os quais se destacam Èmile Durkheim, Max Weber e Karl Marx. A partir dos estudos desses pensadores, formaram-se respectivamente três interpretações acerca da sociedade capitalista: a Sociologia Funcionalista, a Sociologia Compreensiva e a Sociologia Crítica. Essas três correntes sociológicas estudam o capitalismo com perspectivas radicalmente diferente.
Em síntese, a Sociologia é um fenômeno histórico político e cultural, uma ciência que nasceu e se desenvolveu com o intuito não só de interpretar a sociedade capitalista como também nela interferir.

Durkheim e os Fatos Sociais
A Sociologia Funcionalista (Durkheim), preocupa-se com o restabelecimento e a manutenção da hormonia, do consenso e do equilíbrio do sistema; por isso, a ênfase no estudo dos mecanismos de coesão, controle e integração, como a educação.
Para o sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917), a sociedade prevalece sobre o indivíduo. A sociedade é, para esse autor, um conjunto de normas de ação, pensamento e sentimento que não existem apenas nas consciências dos indivíduos, mas que são construídas exteriormente, isto é, fora das consciências individuais. Em outras palavras, na vida em sociedade o homem defronta com regras de conduta que não foram diretamente criadas por ele, mas que existem e são aceitas na vida em sociedade, devendo ser seguidas por todos. Sem essas regras, a sociedade não existiria, e é por isso que os indivíduos devem obedecer a elas.
As leis são um bom exemplo do raciocínio de Durkheim. Em toda sociedade existem leis que organizam a vida em conjunto. O indivíduo isolado não cria leis nem pode modificá-las. São as gerações de homens que vão criando e reformulando coletivamente as leis. Essas leis são transmitidas para as gerações seguintes na forma de códigos, decretos, constituições, etc. Como indivíduos isolados, temos de aceitá-las, sob pena de sofrer castigos por violá-las.
Seguindo essas idéias, Durkheim afirmará que os fatos sociais, ou seja, o objeto de estudo da sociologia, é justamente essas regras e normas coletivas que orientam a vida dos indivíduos em sociedade. Tais fatos sociais são diferentes dos fatos estudados por outras ciências por terem origem na sociedade, e não na natureza (como nas ciências naturais) ou no indivíduo (como na psicologia).
Esses fatos sociais têm duas características básicas que permitirão sua identificação na realidade: são exteriores e coercitivos.
Exteriores, porque consistem em idéias, normas ou regras de conduta que não são criadas isoladamente pelos indivíduos, mas foram criadas pela coletividade e já existem fora de nós quando nascemos.
Coercitivos, porque essas idéias, normas e regras devem ser seguidas pelos membros da sociedade. Se isso não acontece, se alguém desobedece a elas, é punido, de alguma maneira, pelo resto do grupo.
É justamente a educação um dos exemplos preferidos por Durkheim para mostrar o que é um fato social. O indivíduo, segundo ele, não nasce sabendo previamente as normas de conduta necessárias para a vida em sociedade. Por isso toda sociedade tem de educar seus membros, fazendo com que aprendam as regras necessárias à organização da vida social. As gerações adultas transmitem às crianças e aos adolescentes aquilo que aprenderam ao longo de sua vida em sociedade. Com isso, o grupo social é perpetuado, apesar da morte dos indivíduos.
O que a criança aprende na escola? Idéias, sentimentos e hábitos que ela não possui quando nasce, mas que são essenciais para a vida em sociedade. A linguagem, por exemplo, é aprendida, em grande medida, na escola. Ninguém nasce conhecendo a língua de seu país. É necessário um aprendizado, que começa já nos primeiros dias de vida e se prolonga no decorrer dos muitos anos na escola, para que a criança consiga se comunicar de maneira adequada com seus semelhantes. Sem o aprendizado da linguagem, a criança não poderia participar da vida em sociedade.
Outro conceito importante para Durkheim é o de instituição. Para ele, uma instituição é um conjunto de normas e regras de vida que se consolidam fora dos indivíduos e que as gerações transmitem umas às outras. Há ainda muitos outros exemplos de instituições: a Igreja, o Exército, a família, etc.
Assim, para Durkheim é a sociedade, como coletividade, que organiza, normas e regras de ação que lhe são exteriores – ou seja, que não foram criadas por ele – e são coercitivas – limitam sua ação e prescreve punições para quem não obedecer aos limites sociais. As instituições socializam os indivíduos, fazem com que eles assimilem as regras e normas necessárias à vida em comum.
As idéias de Durkheim acerca da sociedade também irão levá-lo a propor um certo método para a sociologia. O método de uma ciência consiste no conjunto de regras que o pesquisador deve seguir para realizar, de maneira correta, suas pesquisas. Como Durkheim enfatiza o caráter exterior e coercitivo dos fatos sociais, ele colocará como regra básica de seu método que o pesquisador deve analisar os fatos sociais como se eles fossem coisas, isto é, como se fossem objetos que existem independentemente de nossas idéias e vontades. Com isso, Durkheim enfatiza a posição de neutralidade e objetividade que o pesquisador deve Ter em relação à sociedade: ele deve descrever a realidade social, sem deixar que suas idéias e opiniões interfiram na observação dos fatos sociais.
Weber e a Ação Social:
A Sociologia Compreensiva (Weber), busca a compreensão dos sentidos dados á ação individual e a influencia desses sentidos em processos sociais macroestruturais, como a formação do capitalismo; por isso, a importância de conceitos como atividade afetiva, atividade tradicional e atividade racional por valor e finalidade.

Enquanto para Durkheim a ênfase da análise recai na sociedade, para o sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) a análise estará centrada nos atores e em suas ações.
Para Weber, a sociedade não seria algo exterior e superior aos indivíduos, como em Durkheim. Para ele, a sociedade pode ser compreendida a partir do conjunto das ações individuais reciprocamente referidas. Por isso, Weber define como objeto da sociologia a ação social. O que é uma ação social? Para Weber é qualquer ação que o indivíduo faz orientando-se pela ação de outros. Recordemos o exemplo já colocado do eleitor. Ele define seu voto orientando-se pela ação dos demais eleitores. Ou seja, temos a ação de um indivíduo, mas essa ação só é compreensível se percebemos que a escolha feita por ele tem como referência o conjunto dos demais eleitores.
Assim, Weber dirá, que toda vez que se estabelecer uma relação significativa, isto é, algum tipo de sentido entre várias ações sociais, terá então relações sociais. Só existe ação social quando o indivíduo tenta estabelecer algum tipo de comunicação, a partir de suas ações, com os demais.
Nem toda ação, desse ponto de vista, será social, mas apenas aquelas que impliquem alguma orientação significativa visando outros indivíduos. Weber dá um interessante exemplo. Imaginemos dois ciclistas que andam na mesma rodovia em sentidos opostos. O simples choque entre eles não é uma ação social. Mas a tentativa de se desviarem um do outro já pode ser considerada uma ação social, uma vez que o ato de desviar-se para um lado já indica para o outro a intenção de evitar o choque, esperando uma ação semelhante como resposta. Estabelece-se, assim, uma relação significativa entre ambos.
A partir dessa definição, Weber afirmará que podemos pensar em diferentes tipos de ação social, agrupando-as de acordo com o modo pelo qual os indivíduos orientam suas ações. Assim, ele estabelece quatro tipos de ação social:
1. Ação tradicional: aquela determinada por um costume ou um hábito arraigado.
2. Ação afetiva: aquela determinada por afetos ou estados sentimentais.
3. Racional com relação a valores: determinada pela crença consciente num valor considerado importante, independentemente do êxito desse valor na realidade.
4. Racional com relação a fins: determinada pelo cálculo racional que coloca fins e organiza os meios necessários.
Vejamos, com um exemplo, como essas diferentes categorias podem ajudar a compreendermos melhor as ações sociais.
Pensemos agora num consumidor que vai comprar um par de tênis numa loja. Sua ação é uma ação social, pois o ato de comprar alguma coisa é significativo. O indivíduo escolhe o objeto que irá comprar orientando-se pela ação de outros consumidores. O problema é como o consumidor orienta sua ação na compra do tênis.
Ele pode comprar o modelo de que mais goste, ou seja, aquele que, emocionalmente, é levado a escolher. Nesse caos, temos uma ação afetiva.
Sua escolha, porém, pode ser de outra natureza. Ele pode adquirir o tênis que tradicionalmente compra, que todos na sua família também estão acostumados a comprar. Então sua ação será tradicional.
Numa terceira possibilidade, ele pode comprar o tênis pelo valor que ele atribui a determinada marca. Aqui, ele toma a marca do tênis como o valor, independentemente de especulações acerca da utilidade ou do preço do artigo. Sua ação será, aqui, racional com relação a valores: a marca é vista como um valor absoluto que orienta sua ação.
E, finalmente, poderá comprar o tênis que estiver mais de acordo com o fim proposto. Se ele vai jogar vôlei, procurará o tênis mais adequado para esse esporte, considerando também o preço mais acessível. Aqui ele estará agindo racionalmente com respeito a fins.
A partir do exemplo, percebemos que a idéia de Weber é que as ações sociais poderão ser mais bem compreendidas a partir dos tipos de ação social criados por ele. E embora na realidade muitas vezes sejamos levados a escolher movido por interesses que remetem a vários desses tipos, no geral podemos definir qual a forma de orientação acaba sendo determinante. No caso do comprador de tênis, ele tanto pode ser levado a escolher uma marca pelo seu valor em si quanto pelo apelo emocional que a marca tem. Devem-se, pois, pensar as ações sociais como podendo ser enquadradas em um só tipo, ou na combinação de vários tipos.

Tanto na conceituação da ação social como na definição de seus diferentes tipos, podemos perceber que Weber não analisa as regras e normas sociais como exteriores aos indivíduos. Pelo contrário, as normas e regras sociais são o resultado do conjunto de ações individuais, sendo que os agentes escolhem, o tempo todo, diferentes formas de conduta. As idéias coletivas, como o Estado, o mercado econômico, as religiões, só existem porque muitos indivíduos orientam reciprocamente suas ações num determinado sentido. Estabelecem, dessa forma, relações sociais que têm de ser mantidas continuamente pelas ações individuais.
Conseqüentemente, a concepção de método em Weber também será diferente da de Durkheim. Weber enfatiza o papel ativo do pesquisador em face da sociedade. Os tipos de ação sociais propostos por Weber, por exemplo, são construções teóricas que servem para tornar compreensíveis certas ações dos agentes sociais. Outros pesquisadores podem construir tipos diferentes para explicar formas de ações sociais que não possam ser compreendidas pelos tipos propostos por Weber. As construções teóricas de cada cientista dependem, assim de escolhas pessoais que devem ser feitas visando aos aspectos da realidade que se quer explicar. Desse ponto de vista, portanto, não é possível uma neutralidade total do cientista em relação à sociedade.
Marx e as Classes Sociais:
A Sociologia Crítica (Marx), preocupa-se com a construção de uma nova sociedade; por isso, o interesse em investigar em que medida as instituições econômicas, o Estado, os movimentos sociais, os meios de comunicação e a escola contribuem para a reprodução ou alteração das relações de dominação capitalista.
O pensador alemão Karl Marx (1818-1883) também contribuiu para a discussão da relação entre indivíduo e sociedade. Diferentemente de Durkheim e Weber, considerava que não se pode pensar a relação indivíduo-sociedade separadamente das condições materiais em que essas relações materiais em que essas relações se apóiam. Para ele, as condições materiais de toda a sociedade condicionam as demais relações sociais. Em outras palavras, para viver, os homens têm de, inicialmente, transformar a natureza, ou seja, comer, construir abrigos, utensílios, etc., sem o que não poderiam existir como seres vivos. Por isso, o estudo de qualquer sociedade deveria partir justamente das relações sociais que os homens estabelecem entre si para utilizar os meios de produção e transformar a natureza. Essas relações sociais de produção são a base que condiciona todo o resto da sociedade. Para Marx, portanto, a produção é a raiz de toda a estrutura social. Na sociedade antiga, por exemplo, a relação social básica era a relação senhor-escravo. Não podemos, segundo Marx, entender a política ou a cultura dessa época sem primeiramente estudar essa relação básica que condicionava todo o resto da sociedade.
Mas o objetivo maior de Marx não era elaborar uma teoria geral sobre a sociedade, e sim estudar a sociedade de seu tempo – a sociedade capitalista. Segundo Marx, na sociedade capitalista as relações sociais de produção definem dois grandes grupos dentro da sociedade: de um lado, os capitalistas, que são aquelas pessoas que possuem os meios de produção (máquinas, ferramentas, capital, etc.) necessários para transformar a natureza e produzir mercadorias, do outro, os trabalhadores, também chamados, no seu conjunto, de proletariado, aqueles que nada possuem, a não ser o seu corpo e a sua disposição para trabalhar. A produção na sociedade capitalista só se realiza porque capitalistas e trabalhadores entram em relação. O capitalista paga ao trabalhador um salário para que trabalhe para ele e, no final da produção, fica com o lucro (nos próximos capítulos será discutido o conceito de mais-valia). Esse tipo de relação entre capitalista e trabalhadores leva à exploração do trabalhador pelo capitalista. Por isso, Marx considerava que havia um permanente conflito entre essas duas classes – conflito que não é possível resolver dentro da sociedade capitalista.
Assim, o conceito de classe em Marx estabelece um grupo de indivíduos que ocupam uma mesma posição nas relações de produção, em determinada sociedade. A classe a que pertencemos é que condiciona, de maneira decisiva, nossa atuação social. Lembremos nosso exemplo de greve: patrão e empregado eram amigos, mas no momento em que ocorre a greve, quando o conflito entre as classes se torna evidente, eles ficam em lados opostos, pois pertencem a classes diferentes e têm interesses diferentes. Nesse sentido, é principalmente a situação de classe que condiciona a existência do indivíduo e sua relação com o resto da sociedade. Podemos compartilhar idéias e comportamentos de indivíduos de outras classes, mas nos momentos de conflito, como nas greves, as diferenças irão aparecer de acordo com a classe a que pertencemos.
Em termos de método, Marx enfatiza que o pesquisador não deve se restringir à descrição da realidade social, mas deve também se ater à análise de como essa realidade se produz ao longo da história. Por exemplo, em relação às classes na sociedade capitalista não basta à descrição das duas classes sociais existentes – a capitalista e a dos trabalhadores -, mas é preciso mostrar a maneira como essas classes surgiram na história, como o conflito entre elas se mantém e quais as possibilidades de transformação dessas relações de classe no futuro. Mostrando as possibilidades de transformação da realidade social, o cientista social pode desempenhar um papel político revolucionário, ao tomar partido da classe trabalhadora. Por isso, em Marx, a ciência tem um papel político necessariamente crítico em relação à sociedade capitalista, devendo ser um instrumento não só de compreensão, mas também de transformação da realidade.
Através da exposição rápida dos conceitos desses três autores, podemos perceber que eles estavam tentando compreender a sociedade de sua época, e para isso elaboraram e utilizaram conceitos como os de fato social, ação social e classe social. De alguma maneira todos estavam interessados em pensar a relação entre indivíduo e sociedade no mundo moderno. As explicações a que chegaram, porém, são bastante diferentes dependendo do que é estabelecido como central: se o indivíduo, se a sociedade ou se a relação entre ambos.
Essas divergências entre as explicações indicam justamente complexidade dos problemas colocados pelas novas condições de vida do mundo moderno e as diferentes possibilidades de interpretação dessas novas condições. Até hoje a sociologia trabalha a partir dos conceitos elaborados anteriormente, assim como com muitos outros conceitos e teorias posteriores. O debate entre as diferentes teorias, portanto, é característico do pensamento sociológico. Sem esse debate, nossa compreensão da sociedade seria mais limitada.
A partir dos conceitos sociológicos vistos anteriormente, podemos abordar de uma nova maneira as situações e os problemas da vida cotidiana. Trabalhando com esses conceitos, não mais estaremos no campo do senso comum, mas no da ciência.
TOMAZI, Nelson Dacio. Iniciação á Sociologia. 2ª edição, São Paulo. Atual, 2000.

- Questões sobre o texto:
. Sobre Durkheim:
a) Como ele define o fato social?
b) Como ele explica o caráter exterior e coercitivo do fato social?
c) Porque, segundo ele o fato social deveria ser tratado como coisa?
d) Com que se preocupa a Sociologia funcionalista de Durkheim?

5. Sobre Max Weber:
a) Como Weber define ação social?
b) Como ele analisa as regras e normas sociais com relação ao indivíduo? (exterioridade).
c) Como ele analisa a questão da neutralidade científica?
d) O que busca compreender a Sociologia compreensiva de Weber?

6. Sobre Karl Marx:
a) Como ele define relações sociais de produção?
b) Como ele define classe social?
c) Segundo ele qual deve ser o papel do pesquisador e da ciência para a sociedade?
d) Com que preocupa-se a Sociologia crítica de Marx?

O que é Sociologia.

FICHAMENTO


MARTINS, Carlos B. O Que é Sociologia. São Paulo: Brasiliense, 32ª Ed.
Brasília/DF., 18 de novembro de 2003.

Introdução

A Sociologia, através de seus métodos de investigação científica, procura compreender e explicar as estruturas da sociedade, criando conceitos e teorias a fim de manter ou alterar as relações de poder nela existentes.

O século XVIII pode ser considerado um período de grande importância para a história do pensamento ocidental e para o início da Sociologia. A sociedade vivia uma era de mudanças de impacto em sua conjuntura política, econômica e cultural, que trazia novas situações e também novos problemas. Consequentemente, esse contexto dinâmico e confuso contribui para eclodirem duas grandes revoluções – a Revolução Industrial, na Inglaterra e a Revolução Francesa.

Capítulo Primeiro – O Surgimento

Um dos fatos de maior relevância foi o surgimento do proletariado, classe trabalhadora com importante papel histórico na sociedade capitalista.

Os proletários sentiam-se explorados, e muitas vezes, sua revolta se refletia na destruição das máquinas e equipamentos. Gradativamente, eles vão se organizando e formando sindicatos com o objetivo de se defender dos proprietários dos meios de produção e do próprio sistema capitalista vigente. Ao protestar e ao buscar mudanças, a classe operária se inclinava ideologicamente ao socialismo.

A introdução de novas formas de organizar a vida social e a profundidade das transformações, de certa forma, colocou a sociedade em evidência. Em decorrência disso, determinados pensadores passaram a considerá-la um objeto que deveria ser investigado e analisado com metodologia científica adequada.

Pensadores como Owen, William Thompson, Jeremy Bentham podiam ter opiniões diferentes em relação a alguns aspectos da Revolução Industrial, mas eram unânimes em afirmar que ela estava criando novos fenômenos, dignos de serem estudados. A Sociologia, então, foi se formando e se consolidando como se fosse uma resposta intelectual às novas condições de existência – a situação do proletariado, a estrutura das cidades industriais, os avanços tecnológicos, a organização do trabalho nas fábricas – originadas pela Revolução Industrial.

Principalmente no século XVII, a tendência sobrenatural e dogmática de se explicar os acontecimentos foi sendo naturalmente substituída por uma visão racionalista de mundo. Para o racionalista Francis Bacon (1561-1626), a teologia deixaria de ser a forma norteadora do pensamento para dar lugar ao novo método científico de conhecimento baseado na observação e na experimentação sistemática e objetiva dos fatos. Segundo ele, dessa maneira seria também possível descobrir e formulas leis gerais sobre a sociedade.

Já, no século XVIII, foi o pensamento social que evoluiu e fez novas descobertas. Segundo Vico (1668-1744), a sociedade podia ser compreendida, pois, ao contrário da natureza, seria o próprio homem o agente produtor da história. Mais tarde, essa postura intelectual seria amadurecida por Hegel e Marx.

Uma das correntes mais importantes desse mesmo século foi o Iluminismo, originado na França. Os pensadores iluministas tinham como proposta procurar transformar não apenas as antigas formas de conhecimento, mas a própria sociedade. Criticavam as características do feudalismo e os privilégios de sua classe dominante em defesa dos interesses burgueses.

Estudando as instituições da época, os iluministas procuraram demonstrar que elas eram injustas e irracionais e , segundo eles, por constituírem um obstáculo à liberdade do indivíduo, deveriam ser eliminadas.

Paralelamente, o homem comum também estava deixando de se submeter cegamente às instituições sociais e às normas existentes. Elas não eram mais vistas como inacessíveis e imutáveis, mas sim como fenômenos passíveis de serem conhecidos e transformados, afinal, são produtos da atividade humana. Na verdade, os tempos estavam mudando e a crescente racionalização da vida social iria contribuir para a constituição de um estudo científico sobre a sociedade.

A Revolução Francesa também foi uma circunstância que agilizou o processo de formação da Sociologia. Ao final do século XVIII, a monarquia absolutista da França estava assegurando inúmeros privilégios à minoritária classe dominante, enquanto deixava à margem de assistência uma população de 23 milhões de pessoas. Além disso, o arcaico sistema vigente impedia a constituição da livre empresa, a exploração eficiente da terra e abafava as iniciativas da burguesia. Obviamente, a situação era contraditória e não iria se sustentar por muito tempo.


Enfim, em 1789, com a mobilização das massas de trabalhadores pobres, a burguesia tomou o poder. O seu objetivo, na realidade, não girava apenas em torno da mudança da estrutura do Estado. Havia o claro desejo de abolir radicalmente a antiga forma de sociedade, suas instituições e seus costumes, promovendo e inovando aspectos da economia, da política, da religião e da vida cultural. Os velhos privilégios de classe foram destruídos e o empresariado passou a ser incentivado e apoiado.


Capítulo Segundo – A Formação

Diante do profundo impacto que a Revolução Francesa causou, vários pensadores franceses da época – como Saint-Simon, Comte e Le Play – passaram a procurar soluções para o estado de desorganização em que se encontrava a nova ordem social. Todavia, para se chegar a uma estabilização dessa nova ordem, seria preciso, segundo eles, conhecer as leis que regem os fatos sociais e, assim, instituir uma ciência da sociedade.

Ao início do século XIX, o capitalismo emergente desencadeou o processo de industrialização na França, especialmente no setor têxtil. Determinadas situações sociais vividas pela Inglaterra no período de sua Revolução Industrial se repetiram na sociedade francesa.

Na terceira década desse mesmo século, houve a intensificação das crises econômicas e das divergências entre as classes sociais. Os trabalhadores franceses passaram a contestar o sistema capitalista, mas foram violentamente reprimidos pela burguesia, a qual acreditava que seria muito difícil criar uma ordem social estável e organizada.

Percebe-se, portanto, que a Sociologia se formou a partir de um contexto histórico-social complexo e bipolarizado. Primeiramente, ela assumiu o papel intelectual de repensar o problema da ordem social, enfatizando a necessidade da existência de instituição como a autoridade, a família, a hierarquia a destacando a importância teórica delas para o estudo da sociedade.

Segundo Le Play (1806-1882), não seria o indivíduo isolado o elemento fundamental para a compreensão da sociedade, mas sim a unidade familiar. Estudou diversas famílias de trabalhadores sob a industrialização e pôde observar que elas estavam mais instáveis do que anteriormente. Le Play acreditava que se os respectivos papéis tradicionais do homem e da mulher dentro da família fossem resgatados, as famílias e a própria sociedade poderiam adquirir mais equilíbrio.

Os antagonismos de classe existentes na sociedade capitalista são uma característica muito forte desse sistema e, por isso, não há uma única tendência do pensamento sociológico. O que existe é uma multiplicidade de visões sociológicas a respeito da sociedade, do objeto de estudo e dos métodos de investigação dessa disciplina. Essas visões deram origem às diferentes tradições sociológicas ou distintas sociologias.

Alguns sociólogos encararam o capitalismo com otimismo, identificando os valores e os interesses da elite como representativos do conjunto da sociedade. Partindo da percepção desses estudiosos, o funcionamento eficiente das instituições políticas e econômicas é um fenômeno essencial e as lutas de classe não passam de acontecimentos transitórios. Essa tradição sociológica que se colocou a favor da ordem instituída pelo capitalismo teve como base o pensamento conservador.

Os conservadores ou profetas do passado – como por exemplo, Edmund Burke (1729-1797), Joseph de Maistre (1754-1821) e Louis de Bonald (1754-1840) – cultivavam o pensamento medieval. Por um lado, admiravam a estabilidade, a hierarquia social e as instituições religiosas e aristocráticas do feudalismo e, por outro, combatiam com fervor as idéias iluministas que teriam desencadeado, segundo eles, o trágico e nefasto acontecimento do final do século XVIII – a Revolução Francesa.

Aos conservadores não interessava defender o capitalismo que se acentuava cada vez mais. De maneira pessimista, enxergavam a sociedade moderna em decadência, não consideravam nenhum progresso no urbanismo, na industrialização, na tecnologia e no igualitarismo. A sociedade lhes parecia mergulhada no caos, na desorganização e na anarquia. Afirmavam que para haver ordem e coesão social, seria necessário a existência de instituições fortes, tradição e valores morais.

É entre os sociólogos positivistas – Saint-Simon, Auguste Comte, Émile Durkheim – que as idéias conservadoras exerceram grande influência. Apesar de admirarem a linha de pensamento conservador, eles acreditavam que devido às novas circunstâncias históricas, seria impossível restaurar as instituições medievais; não seria adaptável. Pode-se dizer que a oficialização da Sociologia foi uma criação do positivismo. A Sociologia de inspiração positivista visa a criar um objeto autônomo – o social – e a instaurar uma relação de independência entre os fenômenos sociais e econômicos.

Saint-Simon (1760-1825) possuía uma faceta progressista, posteriormente incorporada ao pensamento socialista, porém neste trabalho será dada maior ênfase ao seu lado positivista. Esse pensador acreditava que a existência de uma ciência da sociedade seria vital para a restauração da ordem na sociedade francesa pós-revolucionária. Assim, a nova ciência deveria descobrir as leis do progresso e do desenvolvimento social.

De acordo com sua visão otimista em relação à industrialização, Saint-Simon considerava que ela traria progresso econômico, segurança para os homens e reduziria consideravelmente os conflitos sociais. Como medida de apoio, o pensamento social deveria orientar a indústria e a produção. Ele admitia, porém, a existência de conflitos entre dominantes e dominados e devido a isso, sustentava a idéia de que os industriais e os cientistas deveriam procurar melhorar as condições de vida dos trabalhadores. Caberia, também, à ciência da sociedade descobrir novas normas capazes de guiar a conduta da classe trabalhadora, refreando seus ímpetos revolucionários.

Segundo vários historiadores do pensamento social, muitas idéias de Saint-Simon foram incorporadas por Auguste Comte (1798-1857), um dos fundadores da Sociologia que defendia decididamente a nova sociedade.

Émile Durkheim (1858-1917) compartilhava com Comte a preocupação com a ordem social. Caracterizava a sociedade industrial como que submersa em um estado de anomia, isto é, a ausência de regras claramente estabelecidas que pudessem reger e controlar a conduta dos indivíduos. A partir daí, em uma de suas teses sustentava que o estado de anomia incidia diretamente no crescente número de suicídios.

Durkheim afirmava que os fatos sociais são coercitivos e exteriores às consciências individuais. Por exemplo, devido ao caráter impositivo desses fatos, os indivíduos, segundo ele, são levadas a se comportar de acordo com as regras preestabelecidas pelas gerações anteriores. Por isso, ele negava a existência da criatividade humana no processo histórico.

Os filósofos Marx (1818-1883) e Engels (1820-1903) merecem destaque por suas pesquisas de cunho sociológico e socialista. Esses dois estudiosos procuraram oferecer uma explicação da sociedade como um todo e, por isso, não estavam preocupados em fundar a Sociologia como disciplina específica. Em seus trabalhos, percebe-se uma profunda interligação entre os campos do saber. A formação teórica do socialismo marxista constituiu uma complexa operação intelectual e crítica de assimilação das três principais correntes do pensamento europeu do século passado – o socialismo, a dialética e a economia política.

Para Marx e Engels, a função da Sociologia não poderia se limitar apenas a solucionar os problemas sociais para restabelecer a ordem e o bom funcionamento da sociedade, como imaginavam os positivistas. A Sociologia deveria realizar mudanças radicais na sociedade, unindo teoria e ação, ciência e os interesses da classe proletária.

Já, o sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) defendia a neutralidade científica, segundo a qual o cientista jamais deveria defender preferências políticas e ideológicas a partir de sua atividade profissional. Isso acarretaria um isolamento da Sociologia dos movimentos revolucionários e a profissionalização da disciplina. Weber via o cientista como homem do saber, das análises frias e penetrantes; e o político como homem de ação e decisão, comprometido com as questões práticas da vida. Dessa forma, a ciência deveria oferecer ao homem de ação, a compreensão da sua conduta, das motivações e das conseqüências de seus atos.

O desenvolvimento da Sociologia teve como pano de fundo a burguesia ascendendo politicamente e com freqüência utilizando mecanismos ideológicos e repressivos para assegurar sua dominação. O surgimento de grandes empresas monopolizadoras de produtos e mercados, a eclosão de guerras entre as grandes potências mundiais, a crescente organização política dos movimentos revolucionários socialistas em diversos países eram realidades históricas que abalavam as crenças da perfeição da sociedade capitalista, evidenciando seu caráter transitório.

Sem dúvida, a crise do capitalismo trouxe repercussões no pensamento sociológico contemporâneo. As ciências sociais – Antropologia, Ciência Econômica, Ciência Política – de modo geral, passaram a ser utilizadas para produzir conhecimentos úteis à Dominação vigente. A própria Sociologia, exceto as tendências que receberam influência socialista, passou a ser uma técnica de manutenção da ordem estabelecida.